Com estreia nesta quinta-feira (14) em 48 salas de cinema espalhadas pelo país, distribuição da Europa Filmes e um elenco que conta com Caio Blat e Solange Couto, “Metanoia” é um longa-metragem gospel sobre o drama de um usuário de crack que chega a pedir à própria mãe para ser “enjaulado”, até encontrar Deus (literalmente) e ser salvo da dependência química pela religião.
Quem encabeça o projeto é Caíque Oliveira, ator e diretor da companhia gospel de teatro Nissi, em parceria com a produtora evangélica 4U Films. Além de viver o protagonista do longa, ele assina o roteiro junto com o diretor, Miguel Nagle. “Como sou do teatro, não sabia escrever roteiro para cinema. Foi aí que surgiu a parceria com o Miguel”, disse Caíque.
Inspirado, segundo Oliveira, na história real de uma mãe que teve de colocar barras de ferro no quarto do filho para impedir que ele se drogasse –que o ator diz ter ouvido em Santarém, no Pará, para onde viajou com sua companhia de teatro–, o filme é centrado no personagem Eduardo, um jovem do bairro Jardim Ângela, periferia de São Paulo, que tem emprego, amigos, comida na mesa e uma mãe zelosa.
Fumante eventual de maconha, no entanto, Eduardo acaba se viciando em crack depois de ser apresentado à droga por Jeff, um amigo de classe média vivido por Caio Blat. A dependência da droga leva o protagonista às ruas do centro de São Paulo, na região conhecida como Cracolândia, onde ele pratica assaltos para poder sustentar seu vício.
Passando por clínicas de reabilitação até chegar à atitude radical de pedir à mãe (vivida pela atriz Einat Falbel) que coloque grades em seu quarto, Eduardo só consegue mesmo encontrar um final feliz graças a Deus, em carne e osso. Vivido por Lucas Hornos, o Caquinho de “Sai de Baixo”, o Criador aparece nos últimos minutos do filme para salvar e mudar a vida do personagem.
Engana-se, aliás, quem acha que o título “Metanoia” tenha a ver com a “paranoia” causada pelo uso de crack. O termo significa mudança, arrependimento e, no âmbito religioso, conversão.
O filme é cheio de frases como “Jesus transforma” e tem uma cena que mostra uma sessão descarrego, quando o protagonista finalmente encontra iluminação, mas Caíque e o diretor evitam rótulos. “Não gosto de rotular o filme. Ele é para todos, mas traz a visão em que a gente acredita”, disse o diretor. “A gente não quis demonizar a droga, o crack destrói vidas. A gente vê em depoimentos de famílias. A mídia também mostra isso. Quisemos mostrar a realidade e trazer uma solução para o espectador.”
“Metanoia”, no entanto, vem ganhando forte apoio da comunidade evangélica. Priscilla Alcântara, ex-colega do apresentador Yudi no “Bom Dia e Cia” (SBT) e hoje cantora gospel, por exemplo, estava na pré-estreia do filme, em São Paulo. “Já estava na hora de alguém mostrar a verdade que Jesus faz a gente enxergar”, disse ela, na ocasião. Também na pré-estreia, a cantora e pastora Mariana Valadão salientou que o longa está “no coração de Deus. A realidade é triste, mas tudo pode ser diferente com o amor de Jesus.”
Em um texto publicado no site de sua companhia teatral, Caíque Oliveira é descrito como um jovem que foi salvo por orações após ter se envolvido com “homossexualismo, feitiçaria e prostituição”. Ao UOL, ele disse que não fala mais sobre o passado desde que inaugurou um orfanato em Angola, em 2006. “O governo africano é muito rígido em relação a essa questão, então parei de falar porque isso poderia prejudicar o projeto”, contou.
O próprio Caíque foi, assim como o protagonista de “Metanoia”, criado no Jardim Ângela. Em entrevista para um canal religioso “Deus Transforma”, do YouTube, ele contou que não soube aproveitar a liberdade que tinha e começou a se prostituir ainda criança. “Mas por ter crescido com familiares religiosos, eu sabia que tinha algo a mais para viver”, diz no vídeo.
Convertido aos 19 anos, Caíque conta que descobriu o prazer ao saber que poderia juntar Deus e artes. Foi quando começou a trabalhar com o teatro gospel. “As pessoas entravam de um jeito para ver a peça e saíam de outro, restauradas. Foi bom deixar todo o mal para trás para viver o que Deus tinha.”
Trufas ajudaram a pagar o filme
Os projetos do ator e roteirista também ajudaram no financiamento do filme, orçado em R$ 900 mil. “A arrecadação foi totalmente independente. O Caíque tem alguns projetos e vende DVDs, camisetas, trufas. Também tivemos muitos parceiros de equipamento e finalização”, disse o diretor.
Oliveira confirma: “Vendemos muitas trufas. Parece até um conto de fadas, mas as coisas foram acontecendo assim”. O dinheiro arrecadado, segundo o ator e o diretor, será destinado à construção de uma clínica de tratamento para artistas dependentes do crack.
Sobre a participação de Caio Blat no longa, Oliveira disse que isso foi “uma surpresa”. “Ele nos disse que há muito tempo gostaria de fazer um trabalho assim, para alertar as pessoas sobre o crack. Foi incrível. Ele não cobrou quase nada. E eu quase morri de interpretar do lado dele”, disse o ator e roteirista. Com mais de dez curtas de conteúdo cristão, “Metanoia” é o primeiro longa da produtora 4U Films, que já trabalha em um segundo longa-metragem.