Conquistenses e visitantes viveram experiências diversas durante o evento. Além do olhar institucional, vamos conhecer os de um estudante, um professor, um fotógrafo e um jornalista-cinéfilo
Entre os dias 4 e 9 de outubro, a Mostra Cinema Conquista exibiu 47 filmes nacionais, oferecendo a pessoas de Vitória da Conquista e de várias outras cidades – inclusive de outros estados – a oportunidade de ter contato com produções brasileiras que não costumam ser vistas nos grandes circuitos comerciais de exibição. Ao mesmo tempo, ofereceu oficinas e promoveu discussões sobre temas que fazem parte do universo do cinema, mas que estão bem além da grande tela e da sala escura.
Com tudo isso, pode-se dizer que a Mostra foi “um sucesso”, como afirma o secretário municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Nagib Barroso. “Foi uma semana muito rica para o cinema e para o audiovisual na cidade. A Mostra Cinema Conquista fomentou essa linguagem e ofereceu oportunidades para os cineastas e produtores locais, além de estabelecer o debate com a comunidade acadêmica. O público, com certeza, aprovou”, avaliou Nagib.
O secretário não foi o único a observar dessa forma. A Mostra também foi aprovada por várias outras pessoas que enxergam no cinema algo que vai muito além do mero entretenimento. Mais que isso, o evento é, para essas pessoas, uma vivência necessária para estabelecer contatos, trocar informações, aprender, e, sobretudo, viver o cinema.
Vejamos agora os olhares de um estudante, um professor, um fotógrafo e um jornalista-cinéfilo.
Dez horas de viagem – Iago Aquino saiu da cidade de Seabra, na região da Chapada Diamantina, onde estuda Jornalismo no campus da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), e enfrentou dez horas de viagem, de carona, até Vitória da Conquista, com o único objetivo de participar da Mostra Cinema Conquista pela segunda vez.
“A Mostra tem muita coisa boa para oferecer. A qualidade dos filmes exibidos é muito boa. Esse formato, com oficinas, debates, bate-papos com os diretores dos filmes apresentados, é algo muito produtivo”, justifica.
“E o que mais me chamou a atenção foi que os filmes que vêm para a Mostra geralmente são filmes alternativos, feitos com orçamento baixo. Isso traz o sentido para que o evento aconteça”, complementa Iago, que também participou de conferências e foi um dos alunos da oficina sobre “Como fazer um filme de baixo orçamento”, ministrada pelo diretor e produtor Cavi Borges.
‘Alegria e vida longa’ – O professor Dirceu Martins Alves leciona no curso de Comunicação Social – Rádio e TV da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus. Na Mostra, participou de forma integral, comparecendo ao máximo de atividades que pôde.
“Como professor e visitante, é uma alegria vir pela primeira vez à Mostra Cinema Conquista”, disse Alves. “As sessões de cinema são bem legais. Você assiste aos filmes, escuta os próprios realizadores falando sobre eles, tem os debates, bate-papos, e as mesas acadêmicas também são muito interessantes”, completou.
Além de professor, Alves é também um realizador de filmes. Tem três curtas no currículo. Na última quinta-feira, 8, enquanto ele participava das atividades da Mostra Cinema Conquista, seu filme mais recente, “O presente”, estreava na 4ª edição do Festival de Cinema de Muqui (Fecin), no Espírito Santo. Suas atenções estavam, portanto, divididas, mas não a ponto de comprometer o que veio fazer em Vitória da Conquista. “Esta mostra está de parabéns e desejo a ela vida longa”, afirmou.
‘De escravo a Cristo’ – A rigor, a Mostra Cinema Conquista não é nenhuma novidade para o fotógrafo J. C. D’Almeida. Ele já fotografou várias edições, desde o primeiro ano, sozinho ou em parceria com o colega Sabiá. “Sempre estive como fotógrafo. Houve algumas das quais não participei, quando estive fora do Brasil”, afirma D’Almeida, referindo-se período em que viveu na Europa, na primeira metade da década de 2000.
No entanto, embora a Mostra não seja algo novo para ele, esta 11ª edição lhe causou uma sensação que certamente nunca experimentou. É que, desta vez, ele foi tema de um dos filmes exibidos – o documentário em curta-metragem “J. C. D’Almeida – Uma foto-síntese”, de Rogério Luiz Oliveira, exibido na noite da última terça-feira, 6.
De fotógrafo a homenageado, portanto. “São coincidências que vão acontecendo”, comenta D’Almeida. “Mas ser tema é uma experiência nova. Igual a quando eu estava no teatro: comecei como escravo de Pilatos, e acabei como Jesus Cristo”, compara, espirituoso.
Profissão: cinéfilo – Para se definir, o jornalista Euclides Mendes, o “Pindaí”, costuma fazer uma referência ao filme “Profissão: repórter”, lançado por Michelangelo Antonioni em 1975. Só que, ao fazê-lo, ele substitui a atividade profissional pelo hábito a que se dedica, ao mesmo tempo, com paixão e interesse científico. Diz, portanto, “Profissão: cinéfilo”.
Natural de Pindaí (o que lhe explica o apelido), Euclides desenvolveu sua cinefilia nos anos em que morou em Vitória da Conquista, quando se aproximou do programa Janela Indiscreta – Cine Vídeo Uesb. Hoje, mora em São Paulo. De passagem por sua antiga cidade, participa da Mostra pela segunda vez.
“A Mostra cumpre um papel importantíssimo, porque dá visibilidade à produção do cinema contemporâneo brasileiro. Infelizmente, no país, os espaços de exibição do nosso cinema ainda são muito limitados, sobretudo no interior”, comenta. “Então, a principal qualidade é valorizar o cinema nacional e permitir que ele seja debatido e discutido. Os seminários na Uesb cumprem esse papel. E gostei bastante da seleção de filmes. Estou vendo muita coisa que eu não tinha visto, que não chega nem ao circuito exibidor de São Paulo”.
Como pesquisador da área do cinema, Euclides diz considerar fundamental que os brasileiros conheçam sua própria cinematografia. A seu ver, a Mostra é um espaço ideal para isso. “Quem sabe daí, para mim e para muitos outros que tenham interesse em cinema, não surjam questões que desencadeiem em pesquisas, ou até mesmo em projetos de realização?”, questiona. *Secom