Inovação trás dificuldades para corrupção, mas também insegurança para candidatos a se habilitar.
Depois do simulado eletrônico nas auto escolas e do simulador, já neste mês de janeiro, chegou a vez da automação das aulas e provas práticas para obtenção da carteira de habilitação. O recente anuncio do diretor do Detran-BA Maurício Bacelar, foi recebido com alívio pelas pessoas por se verem “livres” da pressão psicológica imposta pela presença “inibidora” do examinador de trânsito, servidor que acompanha o desempenho do candidato e decide ao final do teste, se o aluno está apto para conduzir com responsabilidade nas vias públicas.
De acordo com Bacelar, os examinadores acompanharão os testes através de um laptop, do lado de fora do carro, através de câmeras e sensores que permitirão perceber todo o andamento, tanto no aprendizado pelos instrutores, como na avaliação. “Nossa preocupação é com a capacitação dos condutores que estão nas ruas” diz o gestor.
A mudança, que segue normas do Denatran – Departamento Nacional de Trânsito, está longe do festeiro senso comum e remete à reflexões como o combate à corrupção, a formação dos examinadores e dos próprios candidatos a se habilitar e a segurança durante as aulas e provas, especialmente no momento em que o aluno estiver sozinho dentro do carro. Afinal, ficar à vontade na hora da avaliação está longe de ser sinônimo de segurança.
Auditar as aulas tem entre seus objetivos, diminuir a emissão corrupta da CNH, um problema antigo e enraizado na cultura de muitas regiões do interior do Estado, onde as pessoas mal tomam as aulas, passam por provas postiças e saem habilitadas. Vai dificultar a vida dos corruptos, entenda-se aqui os próprios candidatos, que se submetem à ilegalidade.
A formação precária dos examinadores é outra situação problemática recorrente. Muitos candidatos reclamam, e com toda razão, da postura desumana e deseducada de muitos servidores, que acabariam inibindo o desempenho dos candidatos. Há muito tempo o Detran-BA não realiza concurso público, tão pouco disponibiliza informações sobre a capacitação continuada oferecida aos examinadores contratados.
O fator trânsito, por sua natureza humana, é extremamente complexo. Poderia o examinador à distância perceber as nuances e as mais variadas situações que o candidato, sozinho, estaria passando? E estaria o candidato, com ou sem examinador, devidamente preparado não apenas para guiar o veículo, mas participar de maneira positiva enquanto elemento do trânsito?
E finalmente, as condições de segurança do candidato à habilitação: apenas a capital possui um circuito fechado para os testes, nas demais cidades as provas são em via pública. O examinador não possui apenas a função de avaliar, sua figura também oferece segurança. Os pedais aos pés, oferecem a possibilidade de intervenção caso o aluno passe por uma situação de risco, um colisão ou mesmo um atropelamento, por exemplo, o que convenhamos, são situações comuns no dia a dia.
Vale lembrar, que Bacelar garante que por conta do vídeo monitoramento, não haverá reajuste nos valores da habilitação.
Enfim, são questões que precisam de reflexão. E respostas. Colaboraram César Damasceno e Tiago Barros.