Por Aécio Ribeiro – Escrevo há tempos. Meu público leitor é tão plural quanto os assuntos que me inspiram: tem os que me admiram, tem os que me reprovam, tem os que me amam e os que me criticam. Todos eles são por demais importantes para mim. Mas há um grupo de leitores, este muito perigoso, que é o dos “analfabetos emocionais”.
Sirvo-me de um texto do colunista de “Veja”, Cláudio de Moura Castro, para explicar o que vem a ser o “analfabeto emocional”: é aquele que “Faz uma leitura ‘criativa’, embalada pelo sentimento e pela paixão. Decifra o texto por via de uma reação pura e espontânea, ignorando os estreitamentos de significado, impostos pelo sentido rigoroso das palavras escritas.” (Revista Veja, ed 2.307, p. 22)
Os analfabetos emocionais não conseguem interpretar o texto pela razão. Eles sequer compreendem os fatores que envolvem a construção do texto ou do assunto. Como professor de literatura, sempre orientei meus alunos a interpretar textos por algumas vias: 1) saber quem é o autor; 2) conhecer o contexto em que o texto foi escrito – seja histórico ou situacional; 3) entender a linguagem do texto (pois muita coisa pode ser figurada); 4) construir posicionamento sobre o texto (do tipo: concordo ou discordo? Que argumentos tenho para isto ou aquilo?), e por aí segue a leitura.
Os analfabetos emocionais lêem o texto a partir de seu umbigo. E quando da avaliação, confundem o conteúdo com o autor. Particularmente, vi isto acontecer com um comentário meu que ganhou a rede social e provocou muitas reações. Os comentarios dos analfabetos emocionais partiram pela avaliação do autor sobre o conteúdo. Atraí inimigos desconhecidos, aqueles que nunca me viram, nunca leram um texto meu, nunca me ouviram, desconhecem minha formação e minha história, e desferiram insultos do tipo: “pastor mequetrefe”, pastor “cego”, “idiota”, “interesseiro”, “judaizado”, “tolo”…
Mais o pior: os analfabetos emocionais se julgam intelectuais. Houve um que afirmou ser “evangélico esclarecido” em detrimento de minha “visão espiritual obscurecida”. Pena! Não sabe ele que gente esclarecida julga conteúdo, não a pessoa que escreveu.
Infelizmente, não posso selecionar meus leitores. E seria também uma atitude pouco inteligente, já que quando escrevo ofereço ao mundo meu texto sem a minha presença, o que permite este pluralismo interpretavo. Assim, como grande parte dos meus leitores não teve professor que lhes orientasse sobre a arte de ler, faz “desleituras”, sem construir absolutamente nada para si ou para outrem. Valha-me, Deus!