Relatório abre nova frente de investigação e diz que houve ‘falso aluguel de maquinário agrícola’ para propriedades na Bahia; suposta sede da empresa utilizada seria na Rua Ivo Freire de Aguiar, no bairro Candeias.
Estadão – A Polícia Federal abriu mais uma frente de investigações sobre lavagem de dinheiro contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima, desdobramento de informações colhidas no âmbito da Operação Cui Bono?. Desta vez, os investigadores vêem indícios de lavagem de dinheiro do peemedebista ‘através do falso aluguel de maquinário agrícola para suas fazendas. Os pagamentos alvo de suspeita da PF chegam aos R$ 6,3 milhões de um valor de R$ 7,1 milhões que ainda seria pago.
Em de 29 de novembro, uma semana antes da denúncia oferecida pela procuradora-geral da República Raquel Dodge, o agende da PF, Arnold Fontes Mascarenhas Neto, entregou o relatório ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, relator do inquérito sobre o bunker dos R$ 51 milhões.
Segundo os investigadores, Geddel se utilizava da empresa JT Terraplanagens, de propriedade de Valério Sampaio Sousa, apontado como um ‘funcionário informal do ex-ministro para fazer os supostos falsos alugueis de maquinários agrícolas.
No documento, a PF detalha que Geddel é dono de 12 fazendas no interior da Bahia, que totalizam cerca de 9 mil hectares, com valor de R$ 67 milhões.
“Apesar dessa alta quantidade, o aluguel de um número elevado de máquinas agrícolas, trabalhando muitas delas por mais de 12 horas diárias, ao longo de mais de três anos toma tal prestação de serviço suspeita à pratica de delitos”. registram os investigadores.
Segundo a PF, ‘os dados colhidos na INFORMAÇÃO 16/2017 da DPFNDC/BA, corroboram com a referida suspeita, uma vez que Valério Sampaio se intitula como administrador de propriedades agrícolas de Geddel Vieira Lima, e a sua empresa JR Terraplanagens, aparentemente, não possui uma estrutura condizente com um estabelecimento comercial capaz de
alugar cerca de quinze máquinas agrícolas, por um período de trinta e seis meses, ao político baiano, tampouco adequada ao volume de dinheiro que supostamente receberia frente a grande quantidade de serviço prestado’.
“Concluímos que as anotações presentes nos itens apreendidos ora examinados geram informações relevantes à presente investigação dada a presença de indícios de possível de lavagem de dinheiro por parte do
investigado Geddel Quadros Vieira Lima” diz a PF.
Origem. A Polícia Federal elaborou o documento sobre a suposta lavagem de dinheiro envolvendo as fazendas de Geddel a partir de dois itens apreendidos dentro do apartamento da mãe do peemedebista, Marluce Vieira Lima, no âmbito da Operação Tesouro Perdido – que encontrou o bunker dos R$ 51 milhões, desdobramento da Cui Bono? – que investiga desvios na Caixa Econômica.
Inicialmente, o documento detalharia apenas os itens encontrados na residência da genitora, também denunciada pela PGR. No entanto, a PF destaca que fez um documento mais amplo porque concluíram que os objetos contém ‘informações que se cruzam com outros dados levantados na investigação’.
Um dos itens – de número 11 no relatório – descritos consiste em documentos relativos a compra e venda de gado, um inventário, horímetro de tratores e papeis relacionados a fazendas do peemedebista. O outro – 12 – é uma agenda, de cor azul, e ‘documentos diversos’.
“Na agenda apreendida (item 12), dentre as informações contidas destacamos o controle detalhado da quantidade de horas e do valor hora de cada máquina, em tese alugadas na JR TERRAPLANAGENS LTDA para as propriedades agrícolas da família”, relata a PF.
Já o ‘referido controle coincide com as planilhas contidas no item 11 do material apreendido, intitulada “HORIMETRO TRATOR”‘, narram os investigadores.
“A principal planilha contém duas tabelas, ao lado esquerdo tem-se todos os pagamentos realizados pela família VIEIRA LIMA a JR TERRAPLANAGENS (que totalizam R$6.343.863,00), ao passo que na tabela do lado direito temos o total devido a referida empresa pelo suposto aluguel das maquinas agrícolas (R$7.194.451,00)”, relata a PF.
Esquema. De acordo com a PF, ‘ao final de cada mês, era realizado o fechamento dos valores devidos com a locação das máquinas do respectivo período’. “Tais valores mensais eram inseridos no controle contábil como “remessas”. Foram um total de trinta e nove remessas, ou seja, de trinta e nove meses de aluguel de maquinário com “VALERIO TRATOR””.
“Destaca-se mais uma vez que os dados contidos em tal planilha coincidem com as informações coletadas na agenda supramencionada. Nela, há o controle individualizado de cada remessa, com o número e o valor de horas
trabalhadas por cada uma das maquinas alugadas”, relata a PF.
Os investigadores dão conta de que, desde 2013, Geddel ‘vem utilizado os serviços de aluguel de maquinário agrícola da empresa JR TERRAPLANAGEM, com uma média de gasto mensal de R$184.473,10 (cento e oitenta e quatro mil e quatrocentos e setenta e três reais e dez centavos)’.
“Em consulta ao valor hora destacamos que o mesmo é condizente com a média cobrada pelos prestadores de serviços similares na região de Vitória da Conquista/BA. Entretanto, destacamos que ao longo de trinta e nove meses, um período razoavelmente grande, a família teria alugado entre 13 (treze) a 15 (quinze) máquinas agrícolas por mês, que trabalharam diariamente em uma quantidade elevada de horas”, afirma a PF.
A PF chegou a fazer vigilância no local de funcionamento da empresa JR Terraplanagens, de propriedade de Valério Sampaio e concluiu que a sede da empresa ‘há tão somente a residência do Sr. Valério, não havendo qualquer placa indicando o funcionamento de um estabelecimento comercial’.
“Segundo moradores locais, Valério realmente trabalhava com maquinas pesadas, mas em um negócio pequeno, possuindo no máximo dois ou três maquinários agrícolas, quantidade essa muito inferior a apontada no controle de gastos de Geddel, o qual teria alugado por mais de três anos cerca de quinze máquinas por mês na referida empresa”, relata a PF.
A PF chegou a apurar que Valério ‘é conhecido na localidade como um administrador dos negócios de Geddel’. “Em frente à residência de Valério estava inclusive estacionado o veículo Hilux/L200, placa JPB7100, de propriedade do falecido genitor de Geddel, o Sr. Afrísio de Suza Lima”.
“Destaca-se também que em consulta as ocorrências policiais registradas por Vlaerio, esse se identifica como administrador de propriedade rural do ex-Ministro (Fazenda Esmeralda, situada no município de ltapetinga/BA), prestando inclusive a noticia criminal de delitos que ocorreram na mencionada propriedade”, narra a PF.
De acordo com o Estadão, a reportagem entrou em contato com a defesa. O espaço está aberto para manifestação.
Ainda segundo a reportagem, houve tentativa de contato com Valério e com a empresa JR Terraplanagem. O espaço está aberto para manifestação.