Há cerca de dois meses foi realizada no Hospital Geral de Vitória da Conquista (HGVC) uma cirurgia, até então, inédita na unidade. Se trata de uma Artroplastia da Articulação Têmporo Mandibular para Tratamento de Anquilose, uma cirurgia de alta complexidade, que mudou a vida de uma garotinha de cinco anos, Raíssa dos Santos Silveira.
A menina Raissa é moradora da zona rural do município de Nova Canaã, localizado a 118 km de Vitória da Conquista. Por conta de um parto a fórceps, Raissa teve fratura do côndilo direito da mandíbula o que acarretou uma patologia chamada Anquilose da Articulação, em que o osso fraturado consolida com o osso do crânio. Assim, até os quatro anos a criança nunca tinha conseguido abrir a boca e esse problema havia sido detectado quando Raíssa tinha oito meses de vida.
Até os cinco anos, a criança só se alimentava com líquidos por meio de canudo, nunca conseguiu mastigar porque a boca não abria, por consequência, também não falava. Por conta da fala e alimentação prejudicadas, o desenvolvimento da paciente estava sendo comprometido, passando a apresentar uma deformidade facial importante.
O Caso de Raíssa estava sendo acompanhado por dentista e fisioterapeuta de zona rural de Nova Canaã. Por conta da pouca idade, Raíssa tinha muita dificuldade de responder às sessões de fisioterapia. Assim, foi encaminhada para uma equipe de cirurgiões Bucomaxilofaciais de Vitória da Conquista, com os profissionais Tais Fraga e Luciano Cincurá.
Então foi dado início na tentativa de que o procedimento fosse realizado pelo SUS, uma vez que a família não tinha condições financeiras de arcar com o serviço privado. Tratava-se de um caso complexo e que necessitaria de uma equipe multidisciplinar envolvida
De acordo com o cirurgião dentista bucomaxilo facial, responsável pela cirurgia, Luciano Cincurá, devido à complexidade do caso e a pouca idade da paciente, um planejamento minucioso seria de extrema valia. Para tanto, foi solicitado um protótipo, que é uma impressão tridimensional do crânio da paciente, como se fosse um modelo de acrílico, disponibilizado pelo SUS, onde foram feitas as marcações precisas de cada milímetro de corte ósseo e local específico por toda anatomia alterada pelo fato de Raissa não conseguir abrir a boca para entubar, houve a necessidade fazer uma traqueostomia, pela equipe cirúrgica pediátrica do HGVC.
Um acesso feito perto ouvido para remoção do bloco ósseo de anquilose, em que a parte que foi removida foi reconstituída com cimento cirúrgico, no intuito de evitar recidiva (retorno) da patologia. Por se tratar de uma área com muitos vasos sanguíneos e nervos, foi usado um motor chamado Piezo Cirúrgico, que oferece maior precisão e evita cortes desnecessários em vasos, só cortando tecidos duros, como os ossos.
Este procedimento, até então, inédito no HGVC, contou com uma equipe composta pelo cirurgião pediátrico Luciano Martins, o anestesista José Neto e pelos cirurgiões Bucomaxilo faciais Luciano Cincurá, Marcionilio Meira e Taís Fraga. A cirurgia durou cerca de duas horas e meia, e foi realizada com total sucesso.
Carmen dos Santos é mãe de Raíssa afirma que a cirurgia foi muito bem sucedida, declarando que a recuperação da paciente está sendo muito boa. Hoje a criança já faz fisioterapia e acompanhamento com fonoaudiólogo, já consegue se alimentar bem, e está passando a ter acesso às primeiras experiências com os alimentos, como as texturas e mastigação. Além de finalmente ganhar a função mastigatória e da fala, Raíssa aos cinco anos agora pode sorrir.