Octávio Mangabeira (1886-1960), governador da Bahia entre 1947 e 1951, disse, há cerca de 70 anos, a famosa frase “pense num absurdo, na Bahia tem precedente”. E nesta sexta-feira, 1º de janeiro de 2021, tanto tempo depois, em Vitória da Conquista, na sessão de posse do prefeito reeleito e da vice-prefeita Ana Sheila Lemos Andrade (DEM), a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores, recém-empossada, deu toda razão ao ex-governador, ao permitir que um advogado, Ademir Ismerim, ocupasse o púlpito para, acreditem, fazer o juramento e ser empossado em nome de Herzem Gusmão (MDB), que está internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em tratamento da Covid-19.

Ismerim se apresentou com uma procuração do prefeito reeleito e faria o juramento e seria empossado no lugar dele, um precedente mundial, contrário à Lei Orgânica do Município e à Constituição Federal. O ato mal pensado da Mesa, sob o comando do presidente Luís Carlos Dudé (MDB), só não foi adiante porque a bancada da oposição, por meio do vereador Andreson Ribeiro Alves (PCdoB), reagiu e não aceitou que continuasse.

Apresentado ao texto da procuração, Andreson Ribeiro chamou o documento de esdrúxulo. “O texto da procuração está equivocado. O senhor prefeito está outorgando poder para Dr. Ademir assumir no lugar dele, isso não tem previsão legal nenhuma. Isso é esdrúxulo. Pela ordem, a oposição não acata, sob pena de retirada da sessão”.

Depois de muita confusão, o advogado Ademir Ismerim – e não o presidente da Câmara, como deveria ser – explicou que houve um consenso para adiar a decisão sobre a sua posse no lugar do prefeito, que seria tomada em uma sessão deliberativa, já que aquele era apenas um ato solene. Ismerim ainda disse que se a Câmara, por fim, não aceitar que ele seja empossado, em vez de Herzem, que o prefeito reeleito teria mais dez dias para fazê-lo e se, por vontade de Deus, não voltar para o convívio da cidade neste tempo, que os vereadores poderão dar mais tempo, por se tratar de motivo de força maior, causado pela pandemia. O advogado fez questão de ressaltar que estava apenas cumprindo uma tarefa que lhe tinha sido delegada pelo prefeito. E pediu tolerância.

No final, o presidente Luis Carlos Dudé acabou por aceitar dar posse apenas à vice-prefeita Sheila Lemos, que fez seu juramento e, desde então, é a prefeita em exercício do município, até que Herzem Gusmão receba alta e retorne a Vitória da Conquista.

HERZEM TEM O TEMPO QUE PRECISAR

Enquanto durou a confusão, em uma sessão que teve vários problemas, como atraso para começar (duas horas) e suspensão por erro de condução e recomeço do zero da eleição da Mesa Diretora, internautas que acompanhavam reclamaram de golpe, incluindo pessoas ligadas ao governo, com muita gente reclamando do advogado, pedindo a posse de Sheila e até culpando a esquerda pela ação estranha, sem saber que ela foi gestada no gabinete do prefeito Herzem Gusmão, tendo ele mesmo assinado a procuração para que um terceiro, não eleito, fizesse o juramento em seu nome e tomasse posse em seu lugar.

Com o ocorrido hoje, Vitória da Conquista se inseriu na lista dos absurdos da política nacional, tornando uma sessão histórica em vergonhosa. Não precisava disso. Herzem é o prefeito eleito, com 54% dos votos dos conquistenses, e tem todo o tempo que precisar para se tratar e assumir quando estiver bem de saúde, o que todos desejam.

Jornalista Giorlando Lima