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Passado e presente se encontram em entrevista com o primeiro e o atual gestor da Universidade

ESPECIAL 40 ANOS

Professor Manoel Augusto foi superintendente da Uesb entre os anos de 1981 e 1982 e Professor Luiz Otávio é o atual reitor da Instituição

Em 40 anos de história, dez professores estiveram à frente da gestão da Uesb. O primeiro deles, professor Manoel Augusto Figueira, exerceu o papel de superintendente da recém-implantada Universidade entre os anos de 1981 e 1982. A missão surgiu quando ele retornava para Vitória da Conquista, cerca de vinte anos após ter saído para dar prosseguimento aos seus estudos. Na bagagem, o professor Manoel Augusto trazia o desejo de que a região Sudoeste pudesse acolher àqueles que buscavam o acesso ao Ensino Superior.

Professor Manoel Augusto – Em 1980, o professor Eraldo Tinoco, meu companheiro de juventude em Salvador e então colega de trabalho no Ministério da Educação, convidou-me para integrar a equipe da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, em Vitória da Conquista, nas funções de Coordenador Regional da Educação e responsável pela implantação da Uesb. Aqui chegando, com a ajuda de familiares, descobri a Escola Agrícola Sérgio de Carvalho, uma escola federal, que nunca funcionou, mas estava completamente construída e com equipamentos pesados armazenados, a exemplo de tratores sem uso e já inutilizados, em um dos seus galpões. Estava tomada pelo mato. Para chegar até ela, foi com o auxílio de foice e facão. Comunicamos o fato ao professor Eraldo que conseguiu a transferência do imóvel para a Secretaria de Educação, ficando definida a área onde se sediaria a nova Universidade, sem prejuízo da Escola Agrícola que, agora, passou a funcionar sob a égide do Estado.

A nossa experiência foi inusitada, somando-se ao labor, a minha pessoal realização de contribuir para a vinda da primeira Universidade da região Sudoeste do Estado. Imaginem: eu, que saí de minha cidade à busca do estudo superior, voltei como instrumento responsável para implantação da primeira universidade pública da região!

Como o senhor define essa trajetória de 40 anos?

Professor Manoel Augusto – Os obstáculos foram irrelevantes, posto que a chegada da Universidade representou a realização do sonho de toda a região Sudoeste. Ao comemorar seus 40 anos como universidade pública, gratuita e de qualidade, de destaque no Brasil e no exterior, a Uesb colhe os louros de uma trajetória de compromisso com sua missão. Essa conduta tem gerado fatos e marcos importantes que contagiam a todos, discentes e docentes, cujo comprometimento merece realce. Além disso, a Uesb se preocupa na geração de oportunidades, o que não pode deixar de se reconhecer como importante para a concretização de cursos fortes, inovadores e capazes de superar as expectativas.

Primeiro gestor da Uesb, professor Manoel Augusto lecionou na Instituição até se aposentar, em outubro de 2013

Desafios atuais

O ano de 2020 entrou para a história como o mais marcante dos últimos tempos. O enfrentamento a um problema de saúde pública totalmente novo e com dimensões globais refez as rotas da humanidade e tem sido um desafio para todos. Na Uesb, não poderia ser diferente. A Universidade chega aos 40 anos em meio à pandemia da Covid-19, que esvaziou seus campi e impôs um cenário que exige vigilância redobrada e, principalmente, o distanciamento físico entre as pessoas. Diante desse grande desafio, o atual reitor da Uesb, professor Luiz Otávio de Magalhães, fala sobre as quatro décadas da Instituição.

Professor Luiz Otávio – Estamos em um contexto excepcional e dramático, que impacta profundamente, e de várias maneiras, a vida de nossos docentes, técnicos, estudantes e de toda a comunidade em que estamos inseridos. Não procuramos ser rápidos, mas sim respeitar o tempo de reflexão, debate e convencimento necessários para que pudéssemos implementar nossos planos de retomada das atividades de ensino nesse cenário. Assim, entre a constatação da necessidade de adoção de metodologias e práticas pedagógicas não presenciais e a efetiva aprovação de nosso regulamento de Ensino Remoto e a implementação dos planos de formação docente e de inclusão digital discente foram quase três meses. Tempo esse que não foi desperdiçado, e sim utilizado intensamente para encontrarmos alternativas de continuidade das ações de ensino no formato da educação on-line, preservando o compromisso histórico da Uesb com a qualidade de suas ações e com o respeito e a inclusão de sua comunidade discente em situação de vulnerabilidade.

Ao fazer uma retrospectiva da trajetória da Universidade, quais são, na sua opinião, os principais fatos marcantes da história da Uesb?

Professor Luiz Otávio – Eu identifico pelo menos cinco movimentos que considero muito importantes na trajetória da Universidade. O primeiro refere-se à consolidação da Uesb como autêntica universidade. Isso pode parecer simples, mas não é. Quando foi criada, em 1980, e nos anos seguintes, ainda não havia uma ideia clara do que seria a Uesb. Naquele momento, ela ainda estava restrita à ideia de formação de professores para atuação na educação básica, não por acaso, a Uesb é herdeira das Faculdades de Formação de Professores de Vitória da Conquista e de Jequié. Então, o primeiro momento, que ocupou as duas primeiras décadas da Uesb, foi de consolidação da Instituição como universidade.

O segundo movimento se refere à auto-organização da Uesb, a partir de suas representações docentes, de servidores e de estudantes, no sentido de construir e fortalecer a autonomia universitária. Este movimento teve um marco importante que foi a eleição, nomeação e posse do reitor Carlos Botelho, em 1987, primeiro reitor eleito pela comunidade uesbiana. O terceiro movimento, que ocupou mais ou menos a segunda metade dos anos 1991-2000 e a década seguinte, foi marcado pela ampliação do número de cursos de graduação da Uesb e sua diversificação entre as áreas de conhecimento. Dos 47 atuais cursos, 29, ou seja, quase dois terços, foram criados e implementados entre 1996 e 2010. E, nesse mesmo período, outros cursos ampliaram suas vagas, criando ingressos semestrais ou abrindo vagas em turnos diferentes. Foi um movimento muito importante, porque a Uesb se tornava uma universidade de massa, oferecendo quase 2 mil vagas por ano.

O quarto movimento importante na trajetória da Uesb, na minha opinião, foi da estruturação de sua rede de programas de pós-graduação stricto sensu. Esse movimento começou em 2002, com a implantação do Mestrado em Agronomia, e, felizmente, até hoje não parou. Desde esse ato inaugural, em quase todos os anos, a Uesb criou e implantou ao menos um curso novo de Mestrado ou Doutorado. Por fim, o quinto momento importante que destaco na história da Uesb é o de organização de seu programa de ações afirmativas e permanência. Com a ampliação da Universidade e sua consolidação como instituição sólida de formação acadêmica e profissional, era importante criar um sistema que assegurasse condições de ingresso para populações historicamente marginalizadas quanto ao acesso à educação superior pública.

Ao lado do vice-reitor, professor Marcos Henrique, professor Luiz Otávio foi empossado reitor, em junho de 2018

A Uesb, hoje, está além das fronteiras da região Sudoeste da Bahia. Como o senhor destaca esse alcance da Instituição?

Professor Luiz Otávio – Temos egressos que atuam em diversas áreas de conhecimento, em diversas instituições, públicas e privadas, de diferentes partes do país e do mundo. Temos ainda um contingente significativo de docentes, técnicos, alunos e ex-alunos amplamente envolvidos com os assuntos de suas comunidades, inseridos nas gestões estaduais ou municipais, ou atuando como ativistas políticos, em favor das bandeiras históricas da democracia, da rejeição aos preconceitos, ao racismo e à desigualdade social.

Quando vemos o impacto de uma publicação de um docente da Uesb, a atuação de um egresso que hoje trabalha na Itália, a pesquisa de uma aluna de doutorado em um estágio sanduíche no Canadá, um ex-aluno e um docente eleitos vereadores em Vitória da Conquista, a atuação de egressos e egressas, hoje ativistas de relevância na luta contra a discriminação à população LGBT e em favor dos diretos de mulheres, negros e trabalhadores, tudo isso nos enche de satisfação e alimenta a sensação de que a Universidade está cumprindo corretamente sua função, impactando de forma decisiva na vida de quem é por ela alcançado.

 

Postado inicialmente no blogdopaulonunes.com

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