O deputado Marcelino Galo publicou em sua conta do Instagram um vídeo relembrando o #MaioBaiano que na data de hoje (16) completa 20 anos.
A data é histórica e porque foi o dia em que estudantes universitários e secundaristas, militantes políticos, representantes sindicais e outros segmentos sociais foram violentamente reprimidos ao realizarem uma manifestação pacífica de protesto contra ações ilegais do então senador, Antonio Carlos Magalhães, dentro da área da Universidade Federal da Bahia no Vale do Canela, em Salvador.
Vejam o texto publicado por Marcelino Galo na página do Centro Sérgio Buarque de Holanda de Documentação e História Política, da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA):
Maio Baiano
Por Marcelino Galo
Em maio de 2001, a rebeldia juvenil, estudantes, trabalhadores das diversas organizações da esquerda baiana e partidos políticos foram às ruas de Salvador contra os desmandos do senador Antônio Carlos Magalhães que, à época na condição de presidente do Senado, havia violado o sigilo do painel eletrônico do Senado, revelando os votos dos senadores no processo de cassação do também senador Luiz Estevão.
Convocada pelos movimentos estudantis, a primeira manifestação ocorreu no dia 10 de maio. Os estudantes ocuparam todo o centro de Salvador e partiram em direção ao bairro da Graça, onde residia o então senador ACM. Na altura da Casa D’Itália, a Polícia Militar da Bahia reprimiu violentamente a passeata e impedindo que chegasse ao destino.
O segundo ato, ainda maior, aconteceu em 16 de maio. A estratégia elaborada era seguir a passeata pelo interior do campus da UFBA, concentrando a manifestação no Vale do Canela, na Faculdade de Direito, em razão da jurisdição federal, acreditava-se que a polícia baiana não entraria no espaço, mas não foi o que ocorreu.
Ao chegarem ao viaduto do Canela, os estudantes foram surpreendidos com a presença das forças policiais que já se encontravam no entorno da Faculdade de Direito. A força policial era composta por centenas de homens da Polícia Militar da Bahia, incluindo a Tropa de Choque e a cavalaria. Após horas de espera por algum acordo, a Polícia Militar ofereceu aos líderes do movimento a opção de contornarem o bloqueio e se dirigirem ao Vale do Canela, descendo o viaduto.
Foi justamente a partir deste momento que veio a ordem do governo carlista no sentido de agir com violência e reprimir os estudantes. Atendendo às determinações do presidente do Senado, o então governador César Borges, por intermédio da Secretária de Segurança Pública da época, a delegada de polícia Kátia Alves, foi utilizada a força policial e toda a violência contra os manifestantes incluindo além dos estudantes, professores e trabalhadores.
A Polícia Militar da Bahia, cumprindo determinação do governo carlista, invadiu as dependências da Faculdade de Direito, da Faculdade de Administração, da Faculdade de Educação e de outras unidades da Universidade Federal da Bahia, agredindo todos os presentes com todo o aparato repressivo da polícia baiana, incluindo bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
O confronto sangrento durou mais de uma hora, e tem-se conhecimento de que ao menos 50 pessoas saíram feridas, fazendo do espaço do conhecimento e do desenvolvimento do saber, uma verdadeira praça de guerra.
As imagens da repressão extremamente violenta praticada pela Polícia Militar da Bahia foram manchete em todos os veículos de comunicação do país e provocaram uma terceira manifestação ainda maior que as duas anteriores.
Alguns dias depois, no dia 30 de maio de 2001, o senador Antônio Carlos Magalhães ocupou a tribuna do Senado e anunciou a sua renúncia ao cargo, para evitar uma possível cassação e a consequente perda de seus direitos políticos.
As manifestações ficaram marcadas para sempre na história da Bahia a partir deste conjunto de atos conhecidos como “Maio Baiano”. Justamente no sentido de reforçar a ideia de que é preciso lembrar destes episódios para que jamais esqueçamos e para que nunca mais o despotismo possa reger as ações praticadas na Bahia, pois com tiranos não combinam brasileiros corações.
Assim, propomos um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa da Bahia, que institui o dia 16 de maio como o Dia Estadual de Luta contra a Repressão na Bahia, como uma forma de dar um sentido para essa data no calendário oficial do Estado. E a partir disso propormos a reflexão sobre a nossa história e luta para que atos como esse nunca mais possa se repetir.
Marcelino Galo é deputado estadual (PT-BA), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alba e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Alba.