Cotidiano

Vitória da Conquista registra metade das mortes de homossexuais na BA, afirma Uol

Com uma população GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais) em ascendência nos últimos anos, a cidade de Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador), no sudoeste da Bahia, concentra metade das mortes de homossexuais em 2014 no Estado. Em todo o país, foram 90 mortes registradas.

Segundo a Assessoria de Políticas para Diversidade Sexual, ligada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, até o final de março quatro homossexuais foram mortos neste ano, metade do total de assassinatos ocorridos na Bahia.

Os dados de 2014 de Vitória da Conquista já são o dobro do ano passado, quando duas travestis foram assassinados. Pessoas ligadas ao público GLBT avaliam que as mortes, apesar de envolver também situações de brigas e uso de drogas, têm como causa maior a homofobia.

“São crimes bárbaros, em que a pessoa é morta não só com tiros, mas também é agredida com chutes, murros e outros objetos, o que evidencia uma raiva maior para com a vítima porque ela escolheu amar pessoas do mesmo sexo”, afirmou o assessor de Políticas para Diversidade Sexual, Danilo Bittencourt, militante da causa LGBT.

Despreparo

Bittencout disse que tem cobrado da Polícia Civil mais rigor nas investigações dos crimes, mas sente que as autoridades policiais têm se prendido apenas a outras causas para a morte que não sejam a homofobia. “Há um despreparado da polícia para lhe dar com o assunto”, afirmou Bittencourt.

As vítimas têm sido mortas com quatro tiros ou mais. Alguns crimes, como no caso de Lismar Santos Silva, morto no dia 9 deste mês aos 34 anos, ocorrem em plena luz do dia. Lismar foi assassinado com vários tiros, após uma discussão.

Outro caso que chama a atenção é a morte de um adolescente de 17 anos, que, por ser travesti, tinha sido expulso de casa e estava sendo atendido pelo programa “Creas Pop”, vinculado à Coordenação de Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.

Usuário de drogas, a travesti foi morto numa madrugada com vários tiros. “Notamos que ele foi bastante agredido antes de morrer, o que caracteriza também o ódio por se tratar de uma travesti”, afirma Danilo Bittencourt.

Procurado para falar sobre os crimes, o delegado Marcus Vinícius de Morais Oliveira não deu retorno ao UOL.
Preconceito

Travestis e homossexuais de Vitória da Conquista, cidade com 336.987 habitantes (IBGE 2013), relataram ao UOL que, seja nas ruas, escolas, trabalho e até mesmo em casa são vítimas constantes de piadas, xingamentos, agressões e ameaças de morte.

“Moro com mais duas amigas, numa casa alugada, pois desde que me assumi como travesti, há mais de 5 anos, fui colocada para fora de casa e passei a ser alvo de chacota nos ambientes ‘sociais’ que frequentava, como escola. Parei na 5ª série. Trabalho para gente, ninguém quer dar. Por isso, estou na rua vendendo meu corpo, pois tenho de sobreviver”, disse a travesti “Pâmela” (nome fictício), 21, natural de Guanambi (681 km de Salvador), no sudoeste da Bahia.

Recentemente, um outdoor do projeto “Obranuncio”, patrocinado pelo governo do Estado, foi vandalizado. A Imagem trazia Jesus Cristo beijando outro homem.
Atendimento

Nem todos os homossexuais conseguem se juntar com amigos e morar numa casa. Alguns acabam na rua, o que gera mais marginalização. Na Coordenação de Proteção Social Especial, por exemplo, estão sendo atendidos ao menos três casos desse tipo.

“São pessoas que foram renegadas pela sociedade e pela família”, afirma a coordenadora Kátia Cilene Freitas, responsável pelo atendimento. “Aqui procuramos dar a assistência possível e encaminhá-las de volta a suas famílias, bem como à sociedade, por meio do oferecimento de cursos e empregos”.

O público LGBT de Vitória da Conquista pode contar ainda com a assistência do CAAV (Centro de Atenção e Apoio à Vida), que oferece orientação sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis.

De acordo com a Assessoria de Políticas para Diversidade Sexual, que começou a atuar em 2012, há em Vitória da Conquista oito coletivos LGBTs, cada um formado por mais de dez pessoas e com finalidades diversas. A assessoria informou que trabalhando com os coletivos para a formação de ONGs.

Mário Bittencourt
Do UOL, em Vitória da Conquista (BA)

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