Se a Copa do Mundo no Brasil já se mostrou prolífica no número de gols por partida, ela poderá se gabar de outro feito: pela primeira vez na história, a tecnologia da linha do gol precisou ser utilizada. Neste domingo, no Estádio do Beira-Rio, em Porto Alegre, a França derrotou Honduras por 3 a 0, pela primeira rodada do grupo E, com Karim Benzema marcando dois (o primeiro e o terceiro) e outro contra do arqueiro Noel Valladares. E foi nesse que o sistema precisou entrar em uso.
O chute de Benzema bateu na trave esquerda, passou por sobre a linha, e o goleiro hondurenho se atrapalhou quando tentou pegá-la. A olho nu, ficou a dúvida se a bola entrou ou não. Então, a tecnologia mostrou que, sim, o gol acontecera.
Houve discussão com o árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci por parte dos centro-americanos, também à beira do campo entre os técnicos Didier Deschamps e Luis Fernando Suárez, e o estádio inteiro ficou apreensivo.
A modernidade, enfim, aterrisou no futebol.
Benzema, finalmente estreando em Copas do Mundo, mostrou que sua ótima temporada pelo Real Madrid não foi por acaso e liderou a França sem Franck Ribéry. Foram dois gols e ainda chutou a bola que causou toda a repercussão pela tecnologia. Os franceses, assim, começam a apagar o fiasco de 2010 com uma atuação segura na estreia.
Mas o Beira-Rio também foi palco de algo desagradável: os hinos das duas seleções não foram executados antes do jogo. Ainda não se sabe o motivo.
A França pode encaminhar sua vaga na partida contra a Suíça (vencedora diante do Equador também neste domingo), na próxima sexta-feira, na Arena Fonte Nova, em Salvador, às 16h. Já Honduras tentará manter sua chance de classificação contra os equatorianos no mesmo dia em Curitiba às 19h (horários de Brasília). Os dois jogos terão transmissão ao vivo da ESPN Brasil e do WatchESPN.
O jogo
Pela primeira vez em um jogo desta Copa do Mundo, os hinos nacionais não foram tocados. Ainda assim, era possível perceber para quem a maioria dos torcedores presentes ao Beira-Rio iria apoiar: Honduras, no ‘Davi x Golias’.
O primeiro tempo começou truncado, com muita marcação no meio-de-campo, pegadas fortes, com o jogo físico prevalecendo. Com dificuldade na criação, os hondurenhos poucam ameaçavam o gol defendido por Lloris. Por outro lado, a partir dos 15 minutos, os franceses começaram a tomar conta do jogo.
A primeira chance aconteceu aos 14: após cruzamento da direita, Matuidi ajeitou o rebote e chutou para ótima defesa de Valladares; a bola ainda tocou no travessão antes de sair.
Aos 20, em bela trama pela esquerda, Evra cruzou na medida para Griezmann, novidade da escalação de Didier Deschamps, cabecear acertando o travessão. Dois minutos depois, em contra-ataque, o meia da Real Sociedad achou Valbuena livre pela direita; ele levantou para Benzema, mas a bola subiu mais do que ele esperava, o cabeceio foi por cima do gol.
O clima esquentou quando Pogba recebeu falta de Wilson Palacios, que ainda se enroscou com o volante da Juventus. Irritado, o jovem tentou chutar o hondurenho. A roda de jogadores se formou, e várias discussões aconteceram. Ambos receberam cartão amarelo.
A França seguia apostando nas jogadas pelas laterais, mas um “paredão” hondurenho se formava para os cruzamentos. E os centro-americanos não mudavam a proposta de jogo, arriscando alguns contra-ataques, mas sem qualquer perigo. O chute quase do meio-de-campo de Maynor Figueroa, já aos 30 minutos, foi a melhor “chance”.
Foi então que, aos 42 minutos, a história mudou: em outro lance envolvendo Pogba e Palacios, mas dentro da área, o volante hondurenho esqueceu a bola e foi direto no corpo do francês, que sairia na cara do gol. Pênalti e expulsão do jogador do Stoke City, apenas a segunda nesta Copa do Mundo – o uruguaio Maxi Pereira foi o primeiro a receber o vermelho.
Karim Benzema, a estrela sem a presença de Ribéry, cobrou tranquilamente, deslocando o goleiro Valladares para o lado esquerdo e mandando a bola no direito. França 1 a 0.
Na volta do intervalo, aproveitando sua superioridade em campo, a França partiu para cima e conseguiu fazer o segundo, em um momento histórico para o futebol mundial: a tecnologia da linha do gol precisou ser utilizada de forma efetiva e minuciosa.
Após cruzamento da direita, Benzema tocou de pé esquerdo; a bola bateu na trave, passou pela linha, e o goleiro Valladares se atrapalhou, empurrando-na para a própria meta. A olha nu, porém, a impressão era de que a bola não tinha passado completamente a linha, mas pelo sistema foi possível ver que ela atravessou a faixa.
Em campo, os dois times se mostraram surpresos com o lance. Benzema parou para ver o que o árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci marcaria, e ao assinalar gol comemorou com o banco francês. Os hondurenhos se revoltaram e, ao telão mostrar a bola na trave com o uso da tecnologia, pediram a anulação. Então, quando viram a lambança do próprio goleiro, se resignaram e aceitaram a decisão. Deschamps e o técnico de Honduras, Luis Fernando Suárez, também conversaram à beira do gramado.
A seleção Bleu manteve o domínio e podia ter ampliado em duas ótimas chances. Na primeira, o atacante do Real Madrid recebeu quase na pequena área, mas chutou em cima de Valladares. Depois, Valbuena bateu de chapa, e a bola tirou tinta da trave esquerda. O estádio chegou a gritar o terceiro gol francês quando Matuidi completou cruzamento rasteiro de Evra, mas a bola bateu na rede pelo lado de fora.
A goleada era questão de tempo e se tranformou aos 27 minutos: um chute de Debuchy parou na defesa, mas Benzema pegou o rebote e estufou as redes hondurenhas.
O time de Deschamps seguiu cozinhando a partida, atacando em alguns momentos, mas já com a garantia da vitória, preferiu tocar a bola até o apito final.
FICHA TÉCNICA
FRANÇA 3X0 HONDURAS
Local: Estádio do Beira-Rio, em Porto Alegre (RS)
Data: domingo, 15 de junho
Horário: 16h (de Brasília)
Árbitro: Sandro Meira Ricci (BRA)
Auxiliares: Emerson de Carvalho (BRA) e Marcelo Van Gasse (BRA)
Cartões amarelos: Evra e Pogba (França); Wilson Palacios e Delgado (Honduras)
Cartão vermelho: Wilson Palacios (Honduras)
Gol: França – Benzema, aos 45 do primeiro tempo e aos 27 do segundo tempo, e Valladares (contra) aos 3 minutos do segundo tempo
FRANÇA: Lloris; Debuchy, Varane, Sacko e Evra; Matuidi, Pogba (Sissoko) e Cabaye (Mavuba); Valbuena (Giroud), Benzema e Griezmann. Técnico: Didier Deschamps.
HONDURAS: Valladares; Beckeles, Maynor Figueroa, Bernardez e Izaguirre; Najar (Claros), Garrido, Wilson Palacios e Espinoza; Costly e Bengtson (Delgado). Técnico: Luis Fernando Suárez.