Blog de Giorlando Lima – Muito do que o radialista e prefeito eleito de Vitória da Conquista conhece de Brasília foram os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima que lhe apresentaram. Até o ano passado, as idas de Herzem Gusmão a Brasília tinham como destino principal o TSE, onde ele se defendeu de uma ação movida pelo PT tentando torná-lo inelegível em razão de comentários feitos no seu programa Resenha Geral do Meio-dia. Com a chegada de Michel Temer ao poder e a promoção de Geddel Vieira Lima a ministro da Secretaria de Governo, Herzem, sempre levado pelo irmão do ministro, deputado federal Lúcio Vieira Lima, pôde ter um estágio maior na capital federal, durante a campanha, quando visitou gabinetes e gravou com ministros do governo.
Geddel é o maior patrocinador político de Herzem Gusmão, trazido por ele do PSDB para o PMDB em 2009. Não por acaso, a propaganda do seu adversário na eleição de prefeito insistia em usar a imagem de Geddel, associando o nome do ministro à Operação Lava Jato e ligando Herzem ao ministro. Viu-se que não surtiu efeito. Os marqueteiros do peemedebista cuidaram de usar menos a imagem de Geddel, mas não foi apenas isso. O eleitor conquistense não estava preocupado com a relação de Herzem e Geddel, queria mudança, seja por considerar que o PT já tinha ficado no poder tempo demais ou porque estava convencido de que o partido de Lula tinha defeitos maiores.
Na campanha, fora da TV, Herzem – leal ao correligionário e líder político – não deixou de elogiar o ministro e seu irmão, como fez no debate do segundo turno na TV Sudoeste. Geddel e Lúcio – respectivamente presidente estadual e presidente do diretório de Salvador do PMDB, que dirigem com mãos de ferro e controle absoluto – colocaram a maior parte de suas fichas políticas na eleição de Herzem. Vitória da Conquista é o terceiro maior município baiano e tem forte influência regional sobre cerca de 80 cidades. É, certamente, a cidade mais importante politicamente onde o PMDB elegeu prefeito. O partido de Geddel, Lúcio e Herzem elegeu 47 prefeitos em todo o estado e depois de Conquista a maior prefeitura é a de Simões Filho, com aproximadamente 135 mil habitantes e 79.514 mil eleitores. Vitória da Conquista tem quase 350 mil habitantes e mais de 230 mil eleitores.
Até esta data, Geddel é tido como potencial candidato a senador em chapa liderada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, que deverá ser o candidato a governador. Contar com uma base eleitoral como Vitória da Conquista é importantíssimo para viabilizar o projeto. Em 2010, Lúcio Vieira Lima obteve apenas 193 votos para deputado federal no município, mas Herzem também era candidato à Câmara (e teve 31.650 votos). Em 2014, quando Herzem saiu para estadual, Lúcio chegou a 3.949 votos. Já Geddel, que foi candidato ao Senado, alcançou 53.946 votos. Em 2010, ele foi candidato a governador e teve apenas 18.847 votos no município. Prevê-se que com a chegada do PMDB ao poder municipal a força eleitoral do partido e dos irmãos aumente, afinal, é a prefeitura de Vitória da Conquista.
Se Geddel e Lúcio visam 2018 e contam com a força política que o partido passa a ter no município e na sua região de influência (o PMDB voltou à prefeitura de Itapetinga e ganhou Itambé), Herzem pensa no quanto o seu futuro governo tem a ganhar com Geddel sendo ministro e um dos homens fortes do presidente Michel Temer. Diante da PEC 55 (ou 241) que limita gastos federais e deve provocar a redução dos investimentos em saúde e educação e nas transferências voluntárias da União para os municípios, Herzem conta com Geddel para conseguir o máximo possível de recursos para os projetos que ele pensa em realizar no município. Até ontem poder-se-ia dizer que isso não seria muito difícil, por conta da conhecida força de Geddel no governo Temer.
Até ontem. Porque explodiu como uma bomba em Brasília e nas redações a declaração do ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de que o baiano o pressionou para que ele mudasse posição do IPHAN nacional, subordinado ao Ministério da Cultura, que determinara uma alteração no projeto de construção de um prédio de luxo em Salvador, reduzindo a sua altura de 30 para 13 andares. Geddel tem um apartamento comprado no edifício. Segundo Calero, Geddel o procurou pelo menos cinco vezes fazendo pressão para que ele interferisse e o IPHAN liberasse o projeto original, o que não foi aceito.
Calero deixou o MinC por conta desse embate e ao sair deu entrevistas contando o que aconteceu entre ele e Geddel, que admite ter falado com o ex-colega de ministério sobre o assunto, mas diz que não o pressionou. Para os oposicionistas, trata-se de um caso de advocacia administrativa* e defendem que o presidente demita Geddel. A expectativa é de que Temer se manifeste sobre isso somente na segunda-feira. Políticos e jornalistas acreditam que Geddel pode cair. E isso não pensam apenas os adversários do governo e de Geddel.
Um assessor do presidente Temer disse ao jornal O Globo, ontem, que “esse embaraço para Geddel ainda vai render muito. Fazer uso de sua posição para interesse pessoal, isso é gravíssimo. Ele usou o nome do presidente, isso não é adequado. A menos que o presidente tivesse pedido. E não pediu. E se outros casos surgirem? É abuso de autoridade”. Mesmo assim, pode acontecer de o presidente não demitir o ministro, de quem é amigo há muito tempo. De qualquer forma, esse assunto deve se estender por mais um tempo, com desgaste para Temer e para Geddel.
A pergunta que mais interessa a Vitória da Conquista agora, é: se Geddel cair quem vai fazer a defesa da administração de Herzem Gusmão em Brasília? A queda de Geddel também diminuiria muito a capacidade de influência do irmão, Lúcio. Com Geddel fora do ministério e com influência reduzida no governo federal, o governo de Herzem também estará enfraquecido?
Gostaria de ter essa resposta do próprio prefeito eleito, mas Herzem Gusmão já avisou que não mais responderá perguntas e entrevistas diretas do BLOG e só falará por meio da assessoria de imprensa, então, não vou nem tentar. Mas, que é uma boa questão pela qual ele se manifestar isso é.
* Advocacia Administrativa – Artigo 321 do Código Penal Brasileiro:
Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.
Parágrafo único – se o interesse é ilegítimo:
Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa.”