A Igreja Universal do Reino de Deus em Angola teve cinco templos invadidos nesta segunda-feira (22) por ex-pastores desvinculados da instituição. Alguns pastores e esposas de pastores foram agredidos. Os invasores arrombaram portas para entrar nos templos em Luanda, Benguela, Huambo e Malange.
A ação foi orquestrada e violenta, e pastores, esposas de pastores e funcionários foram agredidos. Alguns ficaram feridos e precisaram receber atendimento médico. Todos passam bem.
De acordo com a nota oficial da Universal de Angola — reproduzida abaixo na íntegra — os autores dos ataques pertencem a “um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto”.
Para confundir a sociedade angolana, os invasores espalharam mentiras absurdas, como, por exemplo, uma acusação de “racismo”. A verdade é que esses dissidentes têm promovido ataques xenófobos — esses sim, racistas — contra a Universal e seu corpo eclesiástico. Xenofobia é o sentimento de ódio contra estrangeiros.
A Universal está em 127 países em cinco continentes do mundo, e tem cerca de 500 mil fiéis em Angola.
A suposta rebelião já havia sido noticiada em novembro do ano passada, quando a Universal explicou se tratar de uma fake news, ou, como disse na ocasião, uma “rede de mentiras arquitetada por ex-pastores desvinculados da instituição por desvio moral, e de condutas até criminosas com o único objetivo de terem sua ganância saciada”.
A violência contra religiosos brasileiros provocou uma reação imediatada do embaixador brasileiro em Angola, Paulino Franco de Carvalho Neto.
“É uma situação delicada sem dúvida”, disse o embaixador. “A embaixada tem trabalhado junto com as autoridades locais e pedido as autoridades policiais angolanas, que dentro de sua competencia possam coibir esses abusos e evitar que propriedades, igrejas, sejam invadidas e que cidadãos brasileiros, membros da Igreja Universal sofram atos de violência. Isso é inaceitavel.
Veja a nota da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola:
“A Igreja Universal do Reino Deus está presente em Angola, oficialmente reconhecida desde 17 de Julho de 1992, tem atualmente 512 pastores dos quais 419 Angolanos, 65 Brasileiros, 24 Moçambicanos e 4 São-tomenses.
A Igreja Universal sempre se pautou pelo amor ao próximo, moralidade, civismo e respeito as autoridades constituídas.
Hoje a Igreja viu-se invadida em Luanda, Benguela, Huambo e Malange por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e em alguns casos criminosas contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto, os mesmos tomados por um sentimento de ódio utilizaram de ataques xenófobos, agrediram e feriram pastores, esposas de pastores e funcionários, usando a violência com objectivo de tomar de assalto a igreja com propósitos escusos.
Atitude essa completamente contraria aos preceitos cristãos.
Por isso, apelamos as autoridades competentes que corrijam as práticas aqui mencionadas definitivamente, pois estão prejudicando milhares de famílias que encontram o conforto e socorro através da fé cristã. Aguardamos com maior brevidade a resposta definitiva repondo a legalidade e impedindo as práticas criminosas.”
Israel da Silva Gonçalves, de 52 anos, está na Igreja Universal do Reino de Deus há 34 anos e atualmente é pastor em Angola.
Na manhã de segunda-feira (22), foi avisado que a igreja do Morro Bento, um bairro de Luanda, capital do país, estava sendo invadida. Deslocou-se para o local para saber o que estava acontecendo e acabou agredido.
Segundo Gonçalves, entre 30 e 40 homens, que seriam dissidentes da instituição, entraram no salão da igreja. Eles estavam passivos e conversavam entre si calmamente até a chegada de uma equipe de TV.
A equipe de reportagem era da TVA, a emissora pública angolana.
“Nós, responsáveis pela igreja, estávamos em cinco pessoas, e nos dirigimos para ver do que se tratava. Quando os invasores nos viram mudaram de atitude, da passividade para a agressividade, gritando que não podíamos impedir as gravações”, lembra o pastor.
“Levamos empurrões e deram socos e chutes em nós.”
Israel Gonçalves conta que seus colegas conseguiram se defender e fugir da violência, mas ele, inesperadamente, levou uma pancada na testa, com algum tipo de porrete. Por causa da agressão ficou desacordado e, segundo testemunhas, levou chutes já caído no chão.
“Tomamos conhecimento que a invasão ocorreu em várias unidades da igreja no país, inclusive em uma hoje [terça-feira]. Tentaram na catedral principal de Luanda também, mas não conseguiram”, relata.
O pastor da Universal recorda que, desde novembro de 2019, quando esses dissidentes começaram a protestar, houve uma manifestação grande na catedral de Luanda e, depois, mais ou menos uns dez atos em endereços da igreja no país. “Eles entravam nos cultos e ficavam ao lado dos fiéis nas reuniões. Em determinado momento, começavam a falar e a gritar palavras de ordem.”
Ele conta que a situação na Angola é tensa. “Estamos bem alerta. E, a princípio, a gente não percebe nenhum tipo de apoio das autoridades locais.”
Gonçalves diz ter tido dificuldade até para fazer o boletim de ocorrência após o incidente. “Demoraram muito para me atender mesmo eu estando ensanguentado. Registraram o boletim depois de muito tempo e disseram para eu fazer hoje o que, no Brasil, seria o exame de corpo de delito. Fui lá e o exame foi transferido para amanhã [quarta-feira].”
O pastor levou cinco pontos no supercílio esquerdo.
“O olho está com sangue coagulado, mas estou enxergando normalmente.
Alguma dor no rosto, na testa e nas costas, mas nada muito grave”, detalha.