O Brasil vive um aumento no número de novos casos e mortes de pessoas contaminadas pela Covid-19. Para falar sobre a pandemia no País, as vacinas contra a doença e a expectativa de imunizar a população brasileira no ano que vem, o portal Brasil61.com entrevistou o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto.
Gonzalo é fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também foi ex-secretário de Saúde de São Paulo e atualmente é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP).
O Governo Federal apresentou o plano preliminar de vacinação contra a Covid-19, mas para o professor, esse plano é apenas burocrático. “O que o governo fez foi olhar muito à distância do que está acontecendo e falar ‘tem vacina da Astrazenica’. E, de fato, tem vacina da Astrazenica, mas não porque o governo tenha se movimentado, foi porque a Fiocruz se movimentou. A vacina tem um compromisso de entrega de acordo com aquilo que a Fiocruz pactuou com o laboratório”, explicou.
O governo prevê iniciar a imunização em março de 2021, com a distribuição de 4 milhões de vacinas, em 4 fases de campanha. A pergunta que fica é se esse tempo realmente é suficiente para liberação do imunizante por parte da Anvisa. De acordo com Vecina Neto, isso vai depender mais das entregas das indústrias que estão realizando os testes. “Como a Anvisa está fazendo a análise concomitantemente, (e não só a Anvisa, mas todas as agências do mundo) eu acredito que é tempo suficiente sim”, pontou o médico.
O Ministério da Saúde informou que o Brasil já possui garantidas 142,9 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Então, questionamos o professor universitário se esse número inicial é suficiente para garantir uma boa imunização no País, ele acredita que não. “Falta colocar nesse número as vacinas que, se aprovadas em fase 3, nós receberemos da China. Nós não podemos descartar a vacina chinesa. Além disso, temos as vacinas que serão produzidas pelo Instituto Butantan via transferência de tecnologia”, salientou.
Em relação ao quadro atual da pandemia no Brasil, se estamos vivendo uma segunda onda da doença, Vecina Neto foi categórico ao afirmar que não acredita nisso. “Eu acho que é só um repique da primeira onda por causa do relaxamento social provocado pelas decisões dos governos. Nós estamos tendo só um recrudescimento de primeira onda, não tem nada de segunda onda”, destacou o médico.
Em muitas localidades podemos ver que a população relaxou nos cuidados básicos como o uso de máscara, higienização das mãos com álcool e entre outras medias de proteção social. Para o sanitarista, essas medidas precisam ser mantidas e ainda é preciso fechar uma parte dos estabelecimentos.
“Erroneamente vários locais foram abertos. Não pode funcionar um restaurante que não tenha um salão aberto, com circulação de ar. Não pode funcionar um ambiente qualquer que só tenha ar-condicionado. As academias do jeito que funcionam fechadas e com aparelhos de ar-condicionado, não podem ficar abertas. Esses ambientes disseminam aerossóis e doenças”, explicou.
E como um último recado para a população, o médico afirmou que é preciso ter cuidado com as festas de final de ano.
“Quem quiser festejar o natal de 2021 não deve festejar o natal de 2020. Eu acho que estamos cansados, então não estou pedindo para reproduzirmos o isolamento social ou o lockdown, não, mas vamos ser civilizados! Não vamos fazer eventos em que muitas pessoas se misturem. Eventos em locais fechados onde você não tem a capacidade de dispersão de gotículas que nós emitimos quando falamos, tossimos ou espirramos. Vamos usar sempre a máscara quando estivermos nesses ambientes. Vamos dar a nossa contribuição para um controle melhor dessa pandemia enquanto não chega a vacina a toda população”, finalizou.
Fonte: Brasil 61