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Falhas entre PRF e Hospital de Base favoreceram motorista envolvido em morte de professora atropelada na BR 116

Por Daniel Silva

O atropelamento que matou a professora aposentada Maria Elza Teixeira, no último sábado (11), em Vitória da Conquista, revelou uma sucessão de falhas institucionais que colocam em xeque a eficiência da comunicação entre os órgãos públicos responsáveis por casos de trânsito com vítima. O episódio, que começou como um “sinistro de trânsito” na BR-116, terminou com uma vítima fatal, um motorista desaparecido e um inquérito policial iniciado tardiamente.

Em nota oficial, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou que o acidente foi “devidamente registrado” no Laudo Pericial de Sinistro de Trânsito (LPST) e que todas as medidas cabíveis foram adotadas no local, incluindo o isolamento da área, coleta de evidências e autuação das infrações cometidas pelo condutor da motocicleta. Segundo a corporação, o motorista e a vítima foram socorridos pelo SAMU em estado grave e encaminhados ao Hospital de Base.

A PRF informou ainda que, após o atendimento inicial, seus agentes se deslocaram até a unidade hospitalar “para acompanhar o estado de saúde das vítimas e tentar a identificação da pedestre”, retornando no dia seguinte, quando souberam da morte da professora e da evasão do condutor. A nota, no entanto, não informa quando o caso foi formalmente comunicado à Polícia Civil, responsável pela abertura do inquérito. Há indícios de que o aviso só ocorreu três dias depois do atropelamento — tempo suficiente para que o motociclista, ferido e identificado, deixasse o hospital sem qualquer tipo de custódia.

Do outro lado, o Complexo Hospitalar de Vitória da Conquista (CHVC) confirmou, em nota, que o paciente “evadiu da unidade hospitalar lúcido e orientado, alegando estar bem e recusando o tratamento”. O hospital destacou que não possui poder de detenção e que a guarda de pacientes sob investigação é “de responsabilidade exclusiva das autoridades policiais”. Segundo o CHVC, a equipe médica não tinha conhecimento de que o homem estava envolvido em um acidente com morte.

As duas versões — embora burocraticamente corretas — revelam uma falha gritante de comunicação entre as instituições. A PRF diz ter priorizado o socorro às vítimas, mas não acionou a Polícia Militar ou manteve qualquer vigilância sobre o motorista, mesmo após constatar infrações e a gravidade do caso. Já o hospital, sem informação formal da polícia, tratou o paciente como um cidadão comum, permitindo que ele saísse andando pela porta da frente.

O resultado é trágico: uma professora morta, um condutor desaparecido e um processo de investigação iniciado tarde demais. A sucessão de equívocos cria a sensação de que a burocracia pesou mais que a vida e de que, mais uma vez, a falta de integração entre os órgãos públicos favoreceu o lado errado da história.

Enquanto o corpo da professora Elza era velado, o homem que a atropelou simplesmente se perdeu nas lacunas do sistema.

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