Opinião e Artigos

OPINIÃO DO PAULO NUNES: O PSB e seu destino

Por Paulo Nunes
Nos anos 80 o PSB tomou forma em Vitória da Conquista. Três jovens idealistas e participantes de movimentos estudantis secundaristas (Genivan Neri, Gildelson Felício e José Carlos Rocha) davam à sociedade conquistense uma ideia da boa política, conduzida pela força da juventude, fundamental em qualquer luta. O tempo passou e em tentativas eleitorais a cargos legislativos nenhum dos três teve resultado positivo, o que foi lamentável, pois todos os três são preparados para a prática política. Mesmo assim, sob o comando dos “meninos”, o partido abriu espaços a políticos famosos na cidade como Coriolano Sales, Murilo Mármore e José Pedral. “Os meninos” fizeram história quando resolveram expulsar do partido nada mais nada menos que o maior líder político de Conquista até hoje e, naquela época, mais ainda: Pedral Sampaio. Esse fato gerou a frase de Pedral: “Os meninos já querem ganhar antes de disputar”. Gildelson reagiu e disse a Pedral: “Me respeite, que eu não sou menino”. Pedral, velha raposa, retrucou: “Esse rapaz que não gosta de ser chamado rapaz, quando estiver velho vai querer e ninguém o chamará”. Fatos da política conquistense.

O PSB continuou sua caminhada, mas infelizmente não manteve a ousadia e os ideais daqueles três jovens dos anos 80. Lamentavelmente, aderiram à política de resultados e se acomodaram com cargos de segundo escalão no governo de Pedral, de Murilo Mármore e até de Guilherme Menezes. Com isso, perdeu a condição de convencer a população de Conquista de suas atitudes políticas. Essa troca da luta política por coordenações e secretarias para componentes da parte cartorial do partido distanciou o PSB da disputa pela Prefeitura de Conquista.

O partido então passou a adotar a política mais “ medonha” para quem almeja chegar ao poder, que é organizar partido baseado apenas nas possibilidades eleitorais de vereadores, com a intenção clara de, aderindo ao partido vencedor, garantir espaço no governo. Agindo assim, o PSB dos “meninos” abandonou a ideologia, deixou de tentar convencer a sociedade, esqueceu sindicatos, associações de bairros, estudantes secundaristas e universitários e optou por filiar ao partido qualquer um, que tivesse alguma possibilidade eleitoral, sem se importar se o filiado tinha ou não compromisso programático com o ideal partidário.

Esse fato é tão perceptível pela população que o partido não consegue repetir um vereador num mandato seguinte, à exceção do vereador Gilzete Moreira que se elege individualmente através de seu trabalho assistencial e religioso, nada tendo a ver com o programa do Partido Socialista Brasileiro. Ademais, é ligado ao Partido dos Trabalhadores, notadamente aos deputados Waldenor Pereira e José Raimundo. O outro vereador do partido, Adinilson Pereira, é cristão novo no partido, mas também descompromissado com o ideal partidário – muito mais ligado ao pastor da sua igreja do que aos “irmãos” do partido que, com seus votos, ajudaram a elegê-lo..

Agora o PSB tem um dilema: tem candidato à Presidência da República, tem candidata ao Governo da Bahia e tem candidata ao Senado Federal, mas não tem nenhum candidato a Deputado Estadual ou Federal oriundo da agremiação em Conquista, terceiro colégio eleitoral do Estado, com 222 mil eleitores inscritos.

Essa demonstração de fraqueza política constrange e envergonha seus militantes e simpatizantes da causa partidária. Se os integrantes do partido no governo municipal em Conquista não têm coragem de usar a “pomba”, símbolo do partido, na camisa, na blusa ou paletó. Nesse momento se torna necessário abrir a janela da gaiola para que a famosa pomba branca possa voar encantando aqueles que ainda têm a coragem dos “meninos” dos anos 80. E que a covardia de agora, anos 14, seja apenas um motivo para uma reflexão sobre esse passado não tão distante, quando “os meninos” (que já mereceram um editorial nosso) demonstrem a coragem de homens, pois, paradoxalmente, hoje são pacatos e contentes com papéis coadjuvantes de filme de curta metragem e que não são vistos nos cinemas da vida.

Na minha interpretação, a visita de Eduardo Campos, Lídice da Mata e Eliana Calmon, na manhã de segunda-feira (12 de maio) foi marcada pelo constrangimento, quando o mestre de cerimônia do evento, um dos “meninos”, citava lideranças, das cidades vizinhas, mas não tinha ninguém de Vitória da Conquista para ser aplaudido, alguém que representasse o partido no vigoroso colégio eleitoral de Conquista.

O Vice-Prefeito de Conquista, Joás Meira, tem a oportunidade de se consolidar como liderança política. Para tanto, é necessário fazer sacrifícios, pois vencer a eleição municipal como componente da chapa majoritária foi fácil, mas a beleza da política existe exatamente quando o caminho é espinhoso, dá dignidade à vitória e à compreensão dos companheiros em uma eventual derrota. E a política é um jogo de ideias e de convencimento popular, não há garantias nem a humildes nem a poderosos, mas a dignidade da luta é salutar à disputa.

Entendemos que tanto Joás Meira como as lideranças do PSB em Conquista têm o dever de postular a composição da chapa como candidato a vice-governador ou a deputado e, se tal fato ocorrer na majoritária, será a única chapa a realmente credenciar Conquista como força política regional, já que as demais sequer consideraram tal fato; uma delas chegou ao ponto de dizer que estava prestigiando a cidade “politizada” com uma mera visita de começo de campanha. Pasmem tanta hipocrisia!

Se o PSB quer conquistar o respeito do povo conquistense, deve lançar candidatura de Conquista também nas proporcionais, não se importando se o resultado final é eleição de seus membros ou não; mais importante é passar a ideia de compromisso com a sociedade conquistense e com sua história. Ora, se Eduardo Campos demonstra que é valente, lutando contra duas forças políticas poderosas representadas pelo PT e PSDB, se Eliana Calmon demonstra coragem ao disputar o Senado contra dois medalhões da tradicional política baiana, se Lídice da Mata demonstra coragem ao ficar entre o rochedo e o mar na Bahia, por que o PSB de Conquista vai ficar no ninho em plena luz do dia?

“Surge o sol, fogem pássaros dos ninhos/ Todos vão venturosos trabalhar;/ Eu também, imitando os passarinhos,/ Deixo o morno regaço do meu lar” – Euclides Dantas. Só assim o PSB local retomará o respeito do povo de Conquista. E se por si mesmo não impôs mudanças “aguilinas” nos seus quadros, nada mais salutar que aproveitar as circunstâncias da história para fazê-lo. Afinal, a História também é construída pela extemporaneidade, e na política essa afirmação é inexorável.

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