Saúde

Excesso de limpeza, antibióticos e cesariana afetam sistema imunológico do bebê

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A casa é limpa com desinfetante bactericida. Os sabonetes usados eliminam até 99% das bactérias. O bebê está sempre no colo e só engatinha no tapete desinfectado. Se adoece, o antibiótico é a primeira opção de tratamento. O cenário parece familiar? Cuidado! O zelo com a limpeza e alguns cuidados com a saúde podem estar causando o efeito contrário.

Por muito tempo, as bactérias foram ligadas a sujeiras e doenças. Mas pesquisadores começaram a atentar para a relevância delas para o bom funcionamento do corpo humano, principalmente em relação ao sistema imunológico. Produtos de limpeza e de higiene que prometem eliminar os micro-organismos, por exemplo, matam, inclusive, as boas bactérias que são necessárias para a defesa, tornando os usuários mais vulneráveis a doenças.

É na primeiríssima infância, que compreende os três primeiros anos de vida do bebê, que o sistema imunológico se forma. Dependendo da qualidade das bactérias que entram em contato com a criança, esse sistema vai reagir de forma a combater ou a sucumbir a doenças.

Assista ao trailler de um documentário sobre o tema:

Creative Commons – CC BY 3.0

O parto

Até o nascimento, o bebê não tem contato com nenhum tipo de micro-organismo. Dentro da bolsa aminiótica, ele fica protegido e seu sistema de defesa é neutro. É do ambiente externo que ele vai receber as bactérias que vão colonizar sua pele e seu intestino. Se essas bactérias forem boas, o sistema tem qualidade. Se não, fica deficitário.

No parto vaginal, o primeiro contato do bebê é com a flora bacteriana da vagina e do intestino da mãe. O estímulo é rico e saudável. Mas, no parto feito via cirurgia cesariana, esse contato não acontece e as bactérias que colonizam o bebê são as do ambiente hospitalar.

“Se associa muito a presença dessa flora alterada a uma incidência maior de alergias alimentares precoces, alergias de pele, dermatites atópicas, até doenças autoimunes por conta desses agentes infecciosos. A flora intestinal do bebê tem tudo a ver com isso. É como se essa flora regulasse o tipo de reação do bebê. O parto natural faz com que o bebê receba uma flora muito mais benéfica e isso faz com que o sistema imunológico dele seja mais bem modulado”, afirma o Dr. Flávio Melo, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para tentar reduzir esse prejuízo, a equipe da pesquisadora María Domínguez-Bello, da Universidade de Nova York, têm estudado uma técnica de semeadura do microbioma. O estudo consiste em inserir uma gaze no canal vaginal da mulher e, quando o bebê nasce, essa gaze é passada no rosto e no corpo do bebê, numa tentativa de recuperar essa microbiota. Os resultados têm sido positivos.

De acordo com o pediatra, se não for possível realizar essa técnica é essencial, no mínimo, esperar a ruptura espontânea da bolsa amniótica: “Os bebês que têm a ruptura das águas espontânea, estão em vantagem, porque eles recebem um pouquinho desse contato”.

Primeiros momentos de vida

Segundo Melo, os estudos na área são unânimes em salientar a importância do contato pele a pele e a amamentação nos primeiros instantes de vida para a formação do microbioma o bebê.

“O contato pele a pele com a mãe no primeiro momento transfere um pouco da microbiota da mãe, que é benéfica para o recém-nascido. Segundo ponto: amamentação. Eu digo que o leite materno é um elemento vivo porque a gente sabe que ele tem o que nenhuma fórmula consegue ter que são os probióticos, são bactérias, lactobacilos que, juntos com vários outros elementos do leite, interagem para também contribuir com essa primeira colonização do intestino do bebê”.

Até os três anos

Mesmo que o bebê tenha nascido via cesariana e não tenha recebido contato pele a pele nem leite materno nos primeiros momentos de vida, ainda é possível ajudar na formação da microbiota do bebê.

Nos seis primeiros meses, é muito importante manter o aleitamento exclusivo. Se o uso de fórmulas infantis for inevitável, esse não deve ser o principal alimento do bebê.

“A praticidade tem um preço. Lógico que a gente não deve ser radical. Eu como pediatra sei que tem situações em que é preciso indicar fórmulas. Mas, principalmente para crianças com mais de 6 meses, a fórmula deve ser um complemento, não o prato principal e muitas mães não entendem isso. Não existe nenhuma fórmula no mercado que chegue ao dedinho do pé do leite materno. Então, o que está mais próximo de tentar diminuir o impacto da ausência da amamentação, é dar uma alimentação rica, com alimentos variados e não processados, porque eles também vêm da natureza. Obviamente que a indústria faz a propaganda dela, mas na maioria das vezes as fórmulas não são a salvação”, explica o pediatra.

A alimentação deve ser variada, rica, livre de industrializados, com muita fibra, pré-bióticos e probióticos.

Antes da introdução alimentar, no entanto, o bebê já deve ter contato com as bactérias do ambiente, deitando e rolando no chão, dentro de casa, a partir dos três meses. É a famosa “vitamina S” (de sujeira), que é muito importante para a saúde dos pequenos. Assim que ele sentar, por volta dos seis meses, já pode brincar em tanques de areia, na areia da praia, ou na grama do parque.

É essencial, também, evitar ao máximo usar antibióticos na primeira infância, promover o contato do bebê com a natureza e evitar excesso de zelo com a limpeza.

Em resumo: o que é bom para o microbioma do bebê?

– gestação saudável: é importante que pai e mãe estejam saudáveis na concepção e que a gestante tenha uma alimentação rica e variada;

– parto vaginal ou, pelo menos, aguardar o rompimento espontâneo da bolsa amniótica;

– contato pele a pele no primeiro momento de vida;

– amamentação no primeiro momento, em detrimento da fórmula;

– amamentação exclusiva até 6 meses;

– colocar o bebê no chão a partir dos 3 meses (em casa), a partir do momento em que ele senta, pode-se colocar na areia do parque, da praia, na grama;

– colocar o bebê em contato com a natureza;

– introdução alimentar livre de alimentos processados e não orgânicos – atentar para a variedade;

– evitar o uso excessivo de antibióticos – só em último caso;

– evitar produtos com bactericidas – sabonetes que eliminam as bactérias boas e ruins

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