Aos 13 anos, Marie McCreadie perdeu a capacidade de emitir sons. Ela foi discriminada e internada num hospital psiquiátrico, até que a misteriosa causa de sua mudez foi descoberta. Imagine que, um dia, você de repente perca a capacidade de falar. Tenta emitir sons, mas as palavras simplesmente não saem da boca. O que passará por sua cabeça?
Agora imagine que isso aconteça por mais de uma década. Você perde sua forma mais básica de comunicação e nem sequer pode conversar com seus amigos. Até que, um dia, inesperadamente, você recupera a fala.
De repente, sem voz
Aos 13 anos de idade, “Acordei com uma forte dor de garganta e um grande resfriado”, Marie conta à BBC. “Um ou dois dias depois, tive bronquite.” “Na primeira semana, a irritação (da garganta) era muito intensa por causa da febre.” “Mas quando a temperatura baixou, a infecção desapareceu e comecei a me sentir melhor e ‘normal’… mas, depois de umas seis semanas, minha voz não voltou.” Marie não sabia o que havia acontecido, mas pensava que poderia voltar a falar a qualquer momento. Pouco a pouco, deu-se conta de que isso não aconteceria – pelo menos por muitos anos. E ela não só não conseguia falar. Ela não conseguia emitir qualquer tipo de som com as cordas vocais. Nem uma voz rouca, nem uma tosse. Marie foi ao médico, mas os diagnósticos foram confusos e errados. “A princípio diagnosticaram uma laringite e depois disseram que se tratava de mudez histérica”, conta. A expressão mudez histérica foi usada pela primeira vez no século 19. É descrita como um transtorno da função vocal sem que haja mudanças no corpo, que resultaria num silêncio voluntário.
Em outras palavras, o médico achava que ela se negava a falar. Mas Marie não concordava com o diagnóstico. De qualquer forma, ela estava ocupada demais tentando lidar com o mundo como uma adolescente sem voz, o que lhe trouxe várias dificuldades óbvias, mas também algumas inesperadas.
Quando tinha 25 anos, estava no trabalho e começou a se sentir muito mal.
“Comecei a tossir e começou a sair sangue da minha boca. Pensei que estava morrendo. Podia sentir algo se movendo no fundo da minha garganta. Em certo momento pensei que estava tossindo minhas entranhas. Hoje parece uma idiotice, mas naquele momento sua cabeça dá voltas.”
Um colega chamou uma ambulância, e Marie foi levada ao hospital. Os médicos viram que ela tinha um objeto na garganta e conseguiram extraí-lo. Estava coberto de muco e sangue, mas, quando o limparam, descobriram que se tratava de uma moeda.
Ela estava desde os anos 1960 com aquela moeda presa na garganta – e diz não ter ideia de como o item foi parar lá. Aquela pequena moeda havia ficado presa no fundo de sua garganta por 12 anos, justo ao lado de suas cordas vocais, impedindo que elas vibrassem e emitissem sons. Mas, assim que a moeda saiu, Marie recuperou a voz. “Pude sentir o som na minha garganta, gemidos, soluços. No início, não sabia de onde vinha esse ruído.” “Fiquei em choque.” Como não haviam visto aquela moeda na garganta? Os médicos disseram que a posição do objeto havia o tornado indetectável. Marie teve de reaprender a respirar e a moderar o tom da voz, mas diz que não levou muito tempo.
Sua primeira ligação telefônica foi para a mãe, que começou a chorar. Depois participou do coral local para fazer as pazes com o passado.
Em seu livro “Voiceless” (sem voz), publicado em julho de 2019, ela conta a história. Quanto à moeda, ainda a guarda numa pulseira que veste de vez em quando.
*Fonte: BBC News Mundo