A notícia de que Pernambuco está em estado de emergência em função do aumento de casos de microcefalia no estado trouxe diversas dúvidas a mães e gestantes sobre a origem dessa malformação, que compromete o desenvolvimento adequado do cérebro do bebê. Os questionamentos também estão mobilizando médicos, a Secretaria de Saúde e hospitais de todo o estado que ainda buscam uma explicação para o aumento do número de episódios: em média, os casos no estado não passavam de 10 por ano, mas nos últimos quatro meses foram confirmados 141.
“A secretaria quer saber o quanto antes dessa causa para poder atuar na prevenção e no tratamento”, explicou Luciana Albuquerque, secretária-executiva de vigilância em saúde da Secretaria Estadual de Pernambuco.
A microcefalia não é uma “doença” nova. Em geral, a malformação congênita está associada a uma série de fatores de diferentes origens. Pode ser o uso de substâncias químicas durante a gravidez, como drogas, contaminação por radiação e infeccção por agentes biológicos, como bactérias, vírus e radiação. Entretanto, ainda não há uma explicação para o aumento repetino dos casos nos municípios pernambucanos.
“Por enquanto não queremos criar pânico diante das hipóteses que foram levantadas. Precisamos saber da causa e preparar a rede pra atender esses bebês com fisioterapia e terapia ocupacional, pois eles podem apresentar limitações motoras e cognitivas”, adiantou a secretária.
Além de criar um protocolo de notificações a atendimento a mães e bebês, a secretaria conduz uma investigação minuciosa para descobrir as causas do “surto”, que inclui os dados dos prontuários das gestantes e visitas às casas das mães para colher o maior número de informações possíveis.
No dia 17 de novembro, o diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, apontou uma forte relação entre a circulação do zika vírus e a ocorrência de casos de microcefalia em algumas regiões do país. De acordo com ele, resultados de exames feitos em dois fetos com microcefalia mostraram que as gestantes foram infectadas pelo zika.
Confira abaixo uma lista de perguntas e repsostas sobre o caso:
O que é a microcefalia?
A microcefalia é uma condição neurológica em que a cabeça do recém-nascido é menor quando comparada ao padrão daquela mesma idade e sexo. Neste caso, os bebês com essa malformação congênita nascem com um perímetro cefálico menor do que o normal, que habitualmente é superior a 33 cm.
Quais as causas desta condição?
Em geral, a malformação congênita está associada a uma série de fatores de diferentes origens. Pode ser o uso de substâncias químicas durante a gravidez, como drogas, contaminação por radiação e infeccção por agentes biológicos, como bactérias, vírus e ainda radiação.
Por que há um aumento do número de casos de microcefalia em Pernambuco?
A Secretaria de Saúde do Estado está analisando diversas possíveis causas para essas ocorrências, entre elas: infecções congênitas (rubéola, sífilis, varicela, toxoplasmose), agressões teratogênicas (drogas como talidomida, aspirina, tetraciclina, calmantes), alcoolismo materno, drogadição (cocaína), infecções provocadas por dengue, chikungunya ou zika, entre outros. A causa ainda não está confirmada, mas o Ministério da Saúde já apontou uma probabilidade de ter relação com o zika vírus.
Quais estados estão registrando crescimento de casos de microcefalia acima da média?
O Ministério da Saúde está acompanhando os casos de microcefalia em Pernambuco, estado que tem apresentado aumento de casos da doença, classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como situação inusitada em termos de saúde. Há relatos de profissionais de saúde sobre o mesmo ocorrido nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte. As suspeitas estão sendo investigadas e todos esses locais contam com a atuação de profissionais de saúde do ministério.
Há registro de ‘surtos’ de microcefalia em outros países?
Por enquanto, não há relatos na literatura cientifica e nem casos registrados em outros países da associação do zika vírus com a microcefalia. No entanto, de acordo com o ministério, nenhuma hipótese está sendo descartada.
O bebê com microcefalia pode morrer ou ter sequelas?
Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.
Como é feito o diagnóstico de microcefalia?
Após o nascimento do recém-nascido, o primeiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momentos para se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. A microcefalia também pode ser identificada ainda durante a gravidez, nos exames pré-natais.
Qual é o tratamento para a microcefalia?
Dependendo do tipo de microcefalia, é possível corrigir a anomalia por meio de cirurgia. Geralmente, as crianças precisam de acompanhamento após o primeiro ano de vida. Nos casos de microcefalia óssea existem tratamentos que propiciam um desenvolvimento normal do cérebro.
Quais exames estão sendo realizados nas crianças e nas gestantes dos estados (PE, RN e PB) que já notificaram o Ministério da Saúde?
A partir dos casos identificados em Pernambuco, estão sendo realizadas investigações epidemiológicas de campo, tais como: revisão de prontuários e outros registros de atendimento médico da gestante e do recém-nascido. Também estão sendo feitas entrevistas com as mães por meio de questionário. Os casos seguem para investigação laboratorial e exames de imagem como a tomografia computadorizada de crânio.
Quais as recomendações do Ministério da Saúde às gestantes?
As recomendações são para que façam exames de pré-natal, evitem álcool e drogas, não usem medicamentos sem orientação médica e se protejam de mosquitos.
Segundo o Ministério da Saúde, é importante que as gestantes e suas famílias adotem medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doenças, retirando recipientes que tenham água parada e cobrindo adequadamente locais de armazenamento de água.
Além disso, também recomenda que as famílias evitem o contato com mosquitos: mantenham portas e janelas fechadas ou teladas, que as gestantes usem calça e camisa de manga comprida e utilizem repelentes para evitar picadas.
Microcefalia em Pernambuco
Até 9 de novembro, foram identificados 141 casos. Esses registros foram provenientes de residentes em 42 municípios de diferentes regiões de Pernambuco. A maior parte dos nascimentos (55%) ocorreu no município do Recife.
Quanto ao perfil dos casos, 53,9% dos bebês são do sexo feminino e a maioria (98,9%) nasceu de gestação única.