Destaque Política

MUDA PT… MAS QUAL O SENTIDO DA MUDANÇA NO PED?

“Move o partido agora uma necessidade utópica, angustiada e útil de mudança de rota (à esquerda).”

Por Luís Rogério Cosme[1]

O PT caminha para as eleições internas em 2017.

Aqui trazemos nossas expectativas.

Ressaltamos que este texto é uma carta íntima e não dará subsídio aos puristas de esquerda, nem aos pragmáticos da direita, para malograrem o PT.

Dito isto, as respostas as nossas inquietações, inerentes ao processo eleitoral interno, jazem subscritas em nuanças perceptíveis ao longo dos acertos e erros que desenham trajetórias que não nos mataram (por pouco), mas fraturaram as pernas de um desejo embrionário e vilipendiado que Thomas More chamou de Utopia.

Move o partido agora uma necessidade utópica, angustiada e útil de mudança de rota (à esquerda). Após o tiro nas costas desferido pela burguesia “aliada”, há um cheiro de arrependimentos no ar(?)

Não somente por supostos erros, mas por atitudes não tomadas. Reformas estruturais não realizadas. Não porque tenha o PT falhado numa perspectiva condenatória, messiânica, moldada por uma elite econômica, política e intelectual, parasita da miséria alheia. De fato não houve “erro” sob tal premissa.

O pesar nasce de constatações antes ignoradas. Decorre de um indescritível abalo da autopiedade dos atores que planejaram o “eterno sucesso” do partido (de si para com os seus, atados ao consenso de voz única).

Numa reação de filiados (as) em frente a um espelho de dupla face, o PT convulsiona otimista às vésperas do PED como um inseto (lampyridae) que se esforça e sofre antes de parir uma luz. Ah, finalmente a luz!

Finalmente, percebemos que não convém, por um mero instinto de sobrevivência, agirmos como Cronos (o pai de Zeus) que devorava os filhos para tardiamente constatar que lacerava o próprio soma, quando deveríamos ser mais seletivos nas alianças e mais companheiros das vozes internas divergentes.

Como isso se deu? Todos nós, no fundo, já sabemos. O que podemos resgatar de melhor no PED rumo ao futuro? Eis o ponto a esmiuçar para uma possível felicidade.

Então, mudar o PT é o esforço que não pode prescindir de uma arte que nos serve de água e pão: a arte de Sonhar! Esforço que brota dos recônditos de todo petista, que mesmo varado pela dor de um tempo, jamais se esqueceu de fitar o horizonte.

Busca-se um sonho coletivo. Uma esquerda coletiva. Ora, embalado nos desafios mais sugestivos e encorajadores, sonhar é sempre água e pão para qualquer coletivo sem esperança, após golpes, naufrágios e deriva.

Passado o cansaço de não sonhar ou solucionada a lipotimia pós-pancada, desfeita a fadiga do autocanibalismo político que nos levou ao poder de braços dados com um tipo de satanás (pragmatismo, governabilidade, imbatibilidade, no grande eixo Brasil-Bahia), os filiados do PT irrompem para o PED desnudos, e, oxalá, sem posturas  hierárquicas tão gritantes.

Como caminhar?

Talvez o PT não olvidando mais os pensadores iracundos, deixados à margem da estrada, como excesso de bagagem, agregue forças (hoje desestimuladas) ao primitivo e justo propósito da esquerda amaldiçoado lá atrás.

Nossa triste realidade seria permanecer com os mesmos alinhamentos, mesmos arranjos à direita, sem qualquer autocrítica, pondo todos os enganos no colo das contradições históricas, e ao mesmo tempo, pregando que se mude o PT. Como fazer se não mudarmos as práticas?

Para além do fato de o PT ser Lula, e Lula ser o PT, tudo mais deve ser motivo de questionamento daqui por diante.  Até mesmo as escolhas estratégicas de Lula (entendamos bem esta questão…) porque somos todos corresponsáveis e esta nau perfurada não deve jamais soçobrar. E o PED é somente o começo de um processo de ressuscitação de uma bandeira retirada do mastro por nós mesmos, pela nossa imprevidência. Mas para que esta ressuscitação ocorra, admitamos, em condição de humildade, que por um minuto sequer morremos de alguma forma para alguém ou para alguns, por justa causa.

No PED e depois dele, o discurso da unidade dentro e fora do PT é indispensável. Entretanto, no âmbito das eleições internas do partido,  qualquer apologia a unidade sem respeito a diversidade é refazer contexto movediço, onde nos encontramos atolados até o pescoço.  Unidade significa o que?  Seria razoável no auge do esforço pelo renascimento, modelar uma espécie de unidade para eleger o modelo de sempre e perder tudo o mais?

Sem o debate irmanado nesta hora da madrugada, na qual o sol está na iminência de surgir, a mudança propagandeada será mais uma dose cavalar de transformismo, ou como beijar o vácuo. Será ainda a perda grandiosa de oportunidades para reformas estruturais (de início, por dentro) em razão do povo e da classe trabalhadora, que por um momento (outro traço de uma crise) se esqueceu de que também é povo.

Dói, sabemos, certas palavras. Mas a realidade observável dói mais. Entretanto, uma vez na vida, somente uma, os hegemônicos devem assumir que o PT neoliberal perdeu o jogo no Brasil (Joaquim Levy; a não auditoria da dívida pública, etc.).

Também o PT neoliberal na Bahia ou em qualquer canto, eficiente em vencer pleitos, é como um soldado raso que na sanha de liquidar uma batalha envenena os próprios mananciais.  E impõe aos seus pares a cicuta do consentimento, legitimada pelo silêncio dos covardes, que tragados, tornam-se habitantes de um cemitério. Mas sabemos que o PT está vivo. Ainda bem.

Nessa tessitura de onde nasce o desejo de resgate do país entregue aos interesses estrangeiros, vulnerável às depredações das conquistas sociais, as vozes das minorias no PT carecem ser ouvidas. Por que não?  Afinal, chegou o momento em que estes petistas (da primeira, segunda e terceira horas) não apenas tenham o direito de falar, mas também a dignidade de serem escutados, porque, justiça se faça, contribuíram quase nada (ou nada) com o que de ruim assistimos hoje.

Sem escuta, não há mudança de fato. Seria mais um jogo de cena. Contudo, não há espaço, nem tempo para repetirmos os antigos espetáculos. O velho teatro já desabou. Estamos todos exauridos. O alicerce pede nova barrufada de cimento. Sem diálogo (na distinção) não haverá refazimento de caminhos, nem otimismo.

Os movimentos sociais dispersos querem, como nós, sonhar outra vez. Se não formos capazes de fazê-los enxergar um outro sentido (porque de modo semelhante estamos vazios de sentido)  vão desaguar na fragmentação, enquanto a massa em geral  (aturdida pelos golpes mediáticos anti-PT) seguirá nos braços da extrema direita. Sim. O que é ruim, companheiros, tem lastro e sempre pode piorar.

O educador Rubens Alves, já percebia a ausência do sonho na arte de fazer política ao dizer: “Mas o fato é que hoje ninguém está sonhando. Não há ninguém que faça o povo sonhar“.

Por que?

Quem souber responda. A hora é ontem. Porque a nossa bandeira vermelha quer sair do baú. E uma estrela ascendente quer, ideologicamente, brilhar no céu…

Viva a democracia do Brasil! Viva a democracia no PT!

 

[1] Luís Rogério Cosme é professor Adjunto da UFBA, com doutorado em Saúde Pública e filiado ao PT/Vitória da Conquista/BA.

1 comentário

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  • Luís Rogério Cosme, ler este artigo, levou-me a lembrar do motivo que me levou a um dia militar, e isto me fez bem porem acho que infelizmente que minha capacidade de sonhar ainda esta adormecida, quero verdadeiramente ser beijado pela boca da esperança para assim despertar novamente com todo fulgor da minha alma. Não há nada melhor para um ser que ter pelo que lutar motivado por suas convicções.
    Te agradeço por suas palavras espero que tenha mais por vir. ass Gilvane Nascimento.

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