Um dia depois de recusar a ajuda oferecida pela Argentina, com o argumento de estar a mover todos os recursos humanos e materiais necessários para contornar a crise humanitária vivida pelos baianos, o governo Bolsonaro fez estardalhaço para anunciar a ida de ministros a Vitória da Conquista. Terceira maior cidade do estado, e pólo regional com influência que alcança o norte de Minas Gerais, Conquista é alvo de cobiça eleitoral e está sempre na agenda do ministro da Cidadania, João Roma. Enquanto o presidente curtia passeios de jet ski e em parque de diversões, Roma e Marcelo Queiroga foram representar o chefe em visita ao município.
Com território extenso e árido, a zona rural conquistense enfrenta períodos de estiagem prolongada e chuvas concentradas, mas nada parecido com este dezembro. Sem rios ou grandes mananciais, os produtores rurais enfrentam as adversidades armazenando água em pequenas e médias represas. Muitas delas não suportaram o volume de água e romperam, devastando plantações, inundando distritos e povoados que ficaram sem comunicação com a sede.
Na área urbana os danos foram menores, mas não poderão ser reparados com o dinheiro federal que Roma e Queiroga levaram, em nome do presidente Bolsonaro. Os ministros sobrevoaram Vitória da Conquista e a vizinha Itambé, inundada pelo Rio Pardo depois da abertura das comportas da barragem de Machado Mineiro. Ao lado da prefeita conquistense Sheila Lemos (DEM), Roma e Queiroga deram uma “coletiva” restrita a duas emissoras de televisão, frustrando e deixando revoltados os profissionais de imprensa que se deslocaram para cobrir a agenda dos representantes do presidente em férias.
Apesar de não estar entre os municípios mais castigados pela chuva, Vitória da Conquista tem 217 pessoas acomodadas em abrigos improvisados em escolas, segundo dados da Prefeitura. Mesmo assim havia expectativa de que a presença dos ministros trouxesse mais alento com ajuda mais substantiva. Queiroga anunciou apenas R$ 1 milhão para o município de 350 mil habitantes.
Questionado sobre a recusa à ajuda oferecida pelo presidente Alberto Fernadez, da Argentina, João Roma minimizou a oferta. Segundo o ministro a equipe oferecida pelo país vizinho não faria diferença e, falando em nome de Bolsonaro, Roma disse preferir a ajuda do Japão, que poderá enviar barracas para abrigas famílias que ficaram sem casa. Apesar disso, ao responder uma pergunta sobre as críticas duras do governador Rui Costa sobre a postura do presidente da República e a pouca ajuda federal, o ministro desconversou e se contradisse: “eu não tenho régua para medir o esforço de todos que querem se solidarizar com o povo baiano”. Roma disse ainda que “quem pede socorro não quer saber de onde está vindo a ajuda.”
O Governo Federal publicou hoje uma portaria repassando R$ 12 milhões para os municípios baianos mais prejudicados pelas chuvas e outros R$ 7 milhões numa portaria anterior. “Então vamos fortalecer a assistência com vacinas contra a gripe e contra a hepatite A, além de insumos estratégicos para acidentes com animais peçonhentos e de prevenção de diarreias agudas”, explicou.
Segundo o governador Rui Costa, os R$ 80 milhões prometidos para todo o Nordeste não cobrem sequer as necessidades de reconstrução do que a chuva destruiu na Bahia. Da mesma forma, o governo baiano considera insuficientes os recursos alocados para a assistência aos municípios afetados na área da saúde.
A ajuda modesta gerou frustração e alguma perplexidade. Depois de dois de dias sem chuva e com todas as famílias que precisavam de resgate aéreo atendidas e abrigadas, o que mais impactou a população conquistense foi um incomum movimento de helicópteros.