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Datena vai narrar os jogos da Copa. E promete um estilo diferente

Olhar crítico? Sim, sem medo de falar a verdade. Só que mais focado no lado esportivo, sem querer ser o protagonista ou concorrer com as grandes estrelas que já estão no ramo há algum tempo. Isso é um pouco do que quer o apresentador José Luiz Datena em sua curta temporada como narrador na Copa do Mundo, para os canais Band e BandSports.

Mas isso é só um pouco, como dito. O âncora do Brasil Urgente fala ainda como pretende fazer tabelinhas com os comentaristas para que o telespectador tenha uma transmissão no melhor do modelo americano de TV; pouca descrição do que se passa, e muita opinião e bate papo. “Não quero ser protagonista, quero só tocar na banda. Não quero ser um tenor, só o quarto violino, quero ficar lá atrás.”

O hoje apresentador já foi narrador na própria Band e na Record e comandará todos os jogos do Brasil no Mundial pelo BandSports, além de os de algumas outras seleções na Band. Na Copa, ele conviverá com o “fantasma” da promessa feita de que se o Brasil não for hexacampeão apresentará seu programa só de cuecas. E diz que não vai torcer a favor só por isso.

Em entrevista ao UOL Esporte, Datena fala ainda de uma tristeza que terá ao cobrir a competição: não ver em ação o experiente Silvio Luiz, um de seus companheiros nos tempos de jornalismo esportivo e que não fará narrações porque a RedeTV não tem os direitos de transmissão e não o liberou para a Fox Sports.

UOL Esporte: Qual a grande dificuldade de se fazer uma narração depois de um longo tempo parado?
Datena: Transmitir futebol e fazer o que o Luciano do Valle fazia, ou o que caras como Galvão Bueno e Cleber Machado fazem, é uma coisa difícil. Você está transmitindo uma coisa que o cara está vendo. O Luciano foi o maior que conheci, depois vem o Silvio e depois o Galvão. Silvio é gênio, o último cara que inovou. Ele deu uma criatividade enorme no esporte. É duro você transmitir futebol porque o cara está vendo o que você está falando e o brasileiro entende mais do que você ou igual. Se você sentar pra discutir futebol no boteco, vai sair mais coisas legais que em mesa redonda com especialistas.

Como surgiu essa chance para narrar a Copa?
Na última vez que encontrei com Luciano do Valle, numa festa no Johnny Saad (dono do grupo Bandeirantes) dois meses atrás, ele me falou “Zé, não é possível que você vai ficar fora, vou te colocar na Copa, alguma coisa você vai fazer”. Sem querer ele colocou mesmo. Com a morte dele, a Band precisou de mais narradores. É evidente que eu jamais aceitaria uma coisa de protagonismo numa posição de Copa; é injusto com os caras que fazem futebol todo dia e não tenho capacidade pra substituir um cara como o Luciano.

Como fazer com a questão da visão crítica de um evento que muitos acham desnecessário no país e ter que narrá-lo pela empresa?
Eu fui um dos caras que desde o princípio falava que a Copa não era prioridade para o Brasil, que o país tinha outras necessidades que levam o povo às ruas, como saúde, educação, distribuição de renda, entre outros. Mas já que vai ter Copa e eu vou ter contrato a cumprir, farei o que melhor posso fazer, porque sou profissional. Seria sacanagem não só comigo, mas com a emissora que me tem sob contrato e acordou. Vou procurar fazer bem feito. Pretendo ficar no campo do esporte, já que sou um cara que está lá para narrar partidas.

Mas vai ter liberdade para criticar?
Aí é o seguinte: junto com o profissional estão incluído seus pensamentos. Meu senso crítico está incluído. Vou trabalhar profissionalmente respeitando a emissora, mas tenho meu senso critico. E não dou, não vendo e não o empresto. Se houver necessidade de criticar, vou criticar.

Dá pra dizer que cobrir a Copa como narrador vai ser um momento relax e light para quem cobre um programa policial?
Eu acredito em Deus, mas ele tem escolhido os caminhos mais difíceis pra mim. Essa Copa vai ser a mais punk do mundo. De repente você está falando de Copa e parece que está saindo pra uma guerra no Golfo, uma região instável como o Oriente Médio. É a primeira Copa do Mundo que se tem uma sensação que de repente pode acontecer alguma coisa, um problema social, o povo ir às ruas de novo. Então é complicado. Pelo contrário, de relax não tem coisa nenhuma. Relax iria ser assistir de casa. Pelo contrário, em campo vai ser dificílimo pro Brasil contra rivais fortes, como Argentina, Espanha e Alemanha. E não sei até que ponto um bom desempenho do Brasil vai aliviar a barra nas críticas. O Brasil não sai às ruas de graça, sou a favor de manifestações ordeiras.

Muitos dizem que a Copa é um momento errado para manifestação. Que se tem que manter a ordem e “lavar a roupa suja” sem holofotes. Que acha?
Acho que insatisfação não tem hora. Pode parecer oportunismo (fazer durante a Copa), mas se o cará está insatisfeito, ele pode estar antes, durante ou depois da Copa. Desde que a coisa seja ordeira e pacífica, o povo não pode esquecer sua indignação. Eu acho que manifestação é uma reivindicação justa e legal, desde que ordeira. Não quero ver pessoas machucadas e fazendo distúrbio. É uma questão de amadurecimento democrático. Não dá pra falar “não vai pra rua porque é Copa”. Não se controla insatisfação popular. Você não pode dizer pro povo ´não faz isso e não faz aquilo´. Se é pelo povo e para o povo, não se pode mandar o povo calar a boca e ficar em casa vendo televisão. Se ele quiser se manifestar, vai se manifestar. Se manifestar sem quebrar e bater nos outros é legítimo. E a polícia tem que tomar cuidado para não ser manipulada. Tem que ter calma e não apagar o fogo com gasolina. Mas não se deve falar o que cada um tem que fazer e nem que horas se deve fazer isso.

Por que um telespectador verá um bom jogo com uma narração do Datena?
Acho que vai ser pela curiosidade. Mais pela curiosidade. Eu sou um cara que entende de futebol, mas tenho consciência que não sou narrador esportivo. As pessoas não podem me ver como narrador. Eu vou contar uma história do que estou vendo. Se o time estiver jogando mal pra caramba, vou descer o cacete. Eu era um aprendiz de narrador, fui uma bosta. Depois fui melhorando na Record e interrompi esse lado meu mudando de vertente. Acho que a TV tinha um dia que partir pra isso que vou dizer, mas não tenho fórmula mágica . Como o jogo está sendo visto pelas pessoas, e vou tentar fazer isso na TV; combinei com o Neto, de transmitir o jogo batendo papo. Dá pra fazer isso com os caras que tenho mais intimidade, como Neto, Edmundo e Denilson. Ao invés de falar ´Ramires pegou a bola, tocou pro Oscar, que chutou no goleiro´, eu vou falar ´Neto, olha o Ramires no meio-campo e o que ele fez. Onde você meteria a bola, era ali mesmo o melhor lugar?´. Quero fazer uma coisa mais ou menos igual ao que o americano faz em uma transmissão de basquete. Como eles têm caras que foram jogadores, a narração é muito mais bate papo do que narração em si. Alguns caras fazem isso bem, mas o cara tem que entender. Minha ideia é essa, se não der certo, não deu. Estou lá pra dar meu melhor. A Band tem ótimos locutores e não precisa de mim pra ser diferencial. Não quero ser protagonista, quero só tocar na banda. Não quero ser um tenor, só o quarto violino, quero ficar lá atrás. Todo grande evento nós jornalistas queremos aparecer mais que protagonistas, que são os atletas. Os protagonistas são os atletas e temos que desaparecer para dar lugar às estrelas.

Você prevê alguém como destaque na narração na Copa?
Naturalmente pelo talento algumas pessoas vão se destacar. Tem alguns jovens se destacando e os talentos de sempre, os caras fantásticos. Agora eu só lamento uma coisa. Lamento de verdade, lamento e lamento. Não é possível o Silvio Luiz não fazer uma Copa do Mundo, que pra mim ainda é um talento assim… e não é porque ele é meu amigo, não. Sou fã do Silvio Luiz, quando fui fazer a Copa de 90 era um foca, começava a carreira e ele me abraçou com um carinho tão grande, me deu tanta ajuda, me deu tanta dicas. Foi um prazer estar ao lado do Silvio. Só lamento que ele não faça essa Copa, lamento muito. Ele merecia, foi uma pena nenhuma emissora colocar o Silvio pra narrar. É uma tristeza grande que carrego comigo. Nossa profissão é muito injusta. Nossa profissão é muito ingrata, eu acho. Você pode ser um puta de um locutor, um baita repórter, baita profissional, mas se alguém falar que ´eu acho que não é legal, bacana´ aí não adianta nada seu talento. O cara tem que ser reconhecido pelo talento e não pelo que se acha de você como personalidade.

Você prometeu aparecer de cueca em seu programa se o Brasil não ganhar a Copa. Está mantida a promessa?
A promessa está valendo, claro, por que não? Está pintando até patrocinador já. O Neymar não tem patrocinador na cueca? Mas acho que preciso consultar se não será atendado violento ao pudor.. que vai ser chocante, com certeza vai. Vai ser extremamente chocante. Tirem as crianças da sala, e se puder, você também saia da sala. Ninguém merece ver isso. Se fosse o Brad Pitt ou Antônio Fagundes, o que teria de gente torcendo pro Brasil levar um ferro na Copa, não ia estar no gibi. Mas depois que falei isso tem muita gente torcendo pro Brasil ganhar só pra não me ver de cueca. Eu torço pro Brasil sempre, torci pro Brasil até quando o Dunga foi técnico. Torço sempre. Tenho certeza que o Brasil vai ganhar essa Copa, torço muito, independentemente das críticas que fiz à Copa.
*Uol

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