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O contraditório discurso da classe média

Lançando mão do jargão: “Não se deve dar peixe a ninguém, mas ensinar a pescar”, uma parcela enorme a classe média brasileira condena muitas ações e políticas públicas governamentais implantadas por políticos progressistas, mais comumente rotulados de “comunistas”, mesmo que não sejam (esses políticos) simpatizantes do materialismo histórico de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). No nosso contexto de América Latina, Hemisfério Sul, Brasil, Nordeste, Bahia e Sertão da Ressaca, o mesmo entendimento existe e é disseminado com grande força pela classe média de Vitória da Conquista. 

O jargão citado não quer dizer o mesmo que: dê trabalho, e não esmola? 

É preciso esclarecer que pensar ser verdadeiro o jargão não está errado, se, e somente se, o conceito de “oferecer a vara de pescar”, ou seja, dar a oportunidade de emprego, ou como diriam os teóricos da Economia: “criar postos de trabalhos e recriar tantos outros pelo desemprego estrutural”, permitir uma forma de viver diferente de apenas trabalhar para comer. Pois, em que isso difere da escravidão? 

Onde está a equidade para a maior parcela da população de Conquista (como é em todo o restante do país), cujo soldo, em média, é menor que um salário mínimo e meio (aproximadamente 290 dólares). Considere uma família com 4 pessoas: casal e dois filhos. Como custear roupa, calçado, comida, educação, plano de saúde (há quem considere que o SUS não deva existir), remédios etc? Essas pessoas também precisam de cultura, lazer, diversão. 

(Nessa hora surge a letra da canção “Comida”, do Titãs: 

A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte 

A gente não quer só comida
A gente quer bebida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer

A gente não quer só comer
A gente quer comer e quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro
A gente quer inteiro e não pela metade) 

Quase sempre que um político “comunista” implanta uma política pública, o faz com o objetivo de permitir que aqueles “descamisados”, que Collor reconheceu existirem, tenham acesso a algo mais que apenas pão como fruto do seu trabalho. 

Aqui em Vitória da Conquista, diversas coisas surgiram ou tiveram significativas melhorias com os governos progressistas (“comunistas”):  Saúde; transporte, ainda que com algumas limitações; esgotamento sanitário (90% da cidade); abastecimento de água; pavimentação de bairros inteiros; organização do trânsito (SIMTRANS); CEMAE (considerada por HGP a Policlínica que Conquista já possuía) criada por progressistas; os postos de saúde; as creches; o Conquista Criança; a implantação do SAMU 192, cujo mérito é também de um progressista que trabalhou aqui como secretário de saúde (Deputado Federal Jorge Solla). 

Considerando isso e tantas outras ações, criadas para quem ainda vive nos famosos rincões (mas desconhecidos e desassistidos) de Fernando Henrique Cardoso, impossíveis de serem esmiuçadas em um texto como este, é possível afirmar que o Brasil precisa de progressistas; não por serem “comunistas”, mas que, tendo princípios, implantem programas e políticas que diminuam a desigualdade. Alegorizando: é preciso que sejam eleitas pessoas que “deem” as varas de pesca e possibilitem também aos pescadores chegarem aos locais que há abundância de peixes. 

Voltando a falar da classe média (e boa parte da classe média de Conquista se encontra nessa condição), essa é a mesma que amacia o seu ego praticando as “obras de caridade”, “dando o peixe”. Mas, não consegue perceber que uma cidade é bem mais que imensas avenidas arborizadas, bem iluminadas, com segurança e manutenção constante, na região mais rica, enquanto outras regiões são preteridas. Há exceções, é claro, mas continuam sendo exceções. 

Atente que, não se deve considerar hipócritas os que agem assim, se acreditam estar fazendo o certo, até porque, na maioria das vezes, são impulsionados pela emoção; pela comoção coletiva, próprias de datas como o natal, que, se não fosse bancada pela publicidade do Capital, talvez já tivesse sido esquecida há muitos séculos por alguns. Mas, se agem conscientemente, é porque querem manter privilégios e status; é porque são, no mínimo, preconceituosos. 

Como não concluir que se engana o que rotula e até discrimina quem surge com iniciativas que mitigam as diferenças na estrutura da hierarquia social, quanto possibilitam a ascensão daqueles que historicamente foram marginalizados? 

A essa classe média, a de Conquista, mais especificamente. A que tinha que “fazer das tripas coração” para bancar os filhos nas capitais dos estados brasileiros para cursar medicina, direito, engenharia, cabe mais um questionamento: será que consegue lembrar porque seus filhos podem se formar em medicina, engenharia civil, enfermagem, direito, psicologia etc. aqui, em Conquista, bem pertinho de suas casas, de onde muitos podem ir a pé para a faculdade? Tenham certeza que foi por causa do empenho dessas figuras estereotipadas, rotuladas, tratadas por muitos como lixo nos seus discursos inflamados, principalmente nas redes sociais. Foram esses progressistas sim, que deram a maior contribuição. E, vejam como é curioso, tudo isso foi feito pensando também no índio, no quilombola, e demais indivíduos que não podiam desfrutar do privilégio de estudar em escolas pagas, e que podem agora competir com outros de mesma origem e condição social por uma vaga. É mentira que isso também é possibilitar que todos, inclusive os filhos da classe média conquistense, tenham condição de conquistarem o direito de obter uma vara de pescar, podendo também aprender a encontrar os peixes? 

Reflita, se a classe média de Conquista não fez vistas grossas a muitas coisas porque se encantaram com a sensação do ego satisfeito dando migalhas para os pobres e se regozijando com a beleza de sua “passarela”, quando fechou os olhos para fatos conhecidos por todos:

É mentira que do outro lado da cidade existe um parque com um potencial fantástico, jogado às traças?

É mentira que o canal de águas pluviais que desagua na lagoa deste parque está com problemas sérios, que podem até provocar uma tragédia com destruição de vias, casas e vidas humanas?

É mentira que as escolas públicas municipais ficaram sem receber regular e adequadamente alimento para as crianças?

É mentira que o transporte escolar para alunos e também para os professores tiveram interrupções, porque havia atraso nos pagamentos?

É mentira que houve resistência em participar do consórcio da Policlínica Regional por picuinha?

É mentira que há obras feitas às vésperas (literalmente) da eleição – menos de 24 horas antes das urnas começarem a registrar os primeiros votos?

É mentira que o transporte urbano municipal foi quase destruído?

É mentira que houve estímulo para que os vanzeiros (que querem um lugar ao sol) invadissem as ruas de Conquista, tornando o serviço que era insuficiente em um problema colossal que penaliza ainda mais a população que depende de transporte coletivo? (Obs.: a classe média não pega ônibus, mas seus empregados, sim).

É mentira que o descontrole com o transporte público é tamanho que existia uma vã apelidada de “caveirão”, tamanha a precariedade do veículo que transitava em uma das linhas mais lucrativas, passando pela Olívia Flores para chegar à UESB?

É mentira que muitos motoristas dessas vãs não respeitavam completamente as normas do Código de Trânsito, como aconteceu com o próprio “caveirão”, que colidiu com um ônibus regular da Cidade Verde, quando trafegava irregularmente na contra mão, em uma curva, dentro do Campus da UESB?

É mentira que servidoras licenciadas tiveram corte de salário, mesmo estando ocupando cargo na diretoria de um sindicato?

É mentira que as contas da prefeitura estavam equilibradas quando terminou o mandato de Dr. Guilherme Menezes?

É mentira que o prefeito Guilherme deixou em caixa a verba para continuação da Avenida Perimetral (R$ 60.000.000,00), mas que o trecho concluído facilita o acesso quase que exclusivamente para os empreendimentos com os lotes residenciais mais caros da cidade e entre os shoppings? (por quê o trecho entre a Av. Integração e a Lagoa das Bateias, que passa pelo “Borracha Queimada”, Cidade Modelo e Kadija não foi concluído?)

É mentira que D. Eni teve o seu imóvel destruído sorrateiramente, numa madrugada?

É mentira que um loteamento da cidade em que a coleta de lixo é feita pela concessionária da prefeitura e a iluminação é pública, tem um portão que impede o povo de entrar?

É mentira que esse mesmo loteamento fez há mais de 30 anos o famoso “muro da vergonha”, para impedir que o povo do “Calango nu” transitasse por suas ruas?

É mentira que profissionais da imprensa são atacados injusta e covardemente enquanto exercem o seu ofício?

É mentira que os profissionais de imprensa que não leem a cartilha de alguns políticos tem suas “cabeças pedidas em bandejas” por onde quer que passem?

É mentira? 

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